Eu não dormi bem de sexta para sábado e nem de sábado para domingo. Passei ambas as noites na estrada. Viajei a trabalho, mas com recursos próprios e sem receber nada para isso. Também não trouxe nenhum certificado comigo. Mas, tudo bem, viajei porque quis afinal. E por que eu quis? Porque viajei para encontrar meu "Professor" e gozar da oportunidade de discutir filosofia com ele por algumas horas. Por sinal, ele também não recebeu dinheiro ou certificado algum por essas horas.
É sempre assim que eu o chamo, "Professor", ainda que, depois de mais de dez anos, eu tenha mais intimidade com ele do que muitos que o tratam pelo primeiro nome. "Para que tanta formalidade?", certa vez, me perguntou um amigo que me ouviu ao telefone com ele. Mas não é formalidade. É só respeito por quem, de fato, é e sempre será meu "Professor".
Nem sempre foi assim, porém. Meu "Professor" tem a mesma consideração por parte de muitos. Parece-me que de todos que são ou já foram seus alunos. Não é raro que a conversa do boteco gire em torno da admiração que todos compartilham por ele. Com isso, eu, que sempre tive tendências subversivas, sempre fui avessa à autoridade, primeiro, interpretei essa admiração, vista de longe e de fora, como bajulação, coisa tão freqüente na academia.
Quando eu imaginaria que alguém tão estimado tanto me estimaria justamente por desafiá-lo? "Eu não gosto de pusilânimes!", há muito tempo, ele disse para me tranqüilizar. Desde então, foi o que ele me provou a cada dia de convivência. O "Professor" fundou sua própria "escola", como atesta o título de um artigo do número atual da Studia Kantiana. Entretanto, sua maior obra não é a doutrina dessa escola, explicada em dezenas de publicações, mas sim um modo de filosofar, com paixão e liberdade, afeto e rigor, que ele inspirou em cada um de nós.
Assim, neste dia dos professores, fica minha homenagem a um professor, a este meu "Professor", bem como a todos aqueles que verdadeiramente amam aprender e se dedicam ao conhecimento, seja lá qual for a profissão que exerçam para viver. Apenas não receberão minhas felicitações aqueles que, apenas por terem sido contratados para um determinado cargo, muitas vezes mal e porcamente ocupado, se acham merecedores da mais alta estima e deferência. Eu, de minha parte, estimo indivíduos excelentes, e não categorias por si só.
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