sábado, 3 de novembro de 2012

A mão invisível do Estado

Diz um amigo que sou predestinada a ter problemas nas minhas viagens. Pessoalmente, tendo a crer que os problemas é que ocorrem rotineiramente, de modo que, se você viajar com frequência, acabará enfrentando os piores dissabores mesmo. No meu último tormento, ia de Maringá para Cascavel, de onde seguiria para um simpósio de filosofia em Toledo, quando o vôo foi cancelado com o embarque já em atraso. Supostamente, o avião teria ficado retido em Guarulhos, para manutenção. Convenientemente para si própria, a Trip pôde acomodar todos os seis ou sete passageiros do vôo cancelado em uma van, não sem antes nos fazer esperar por mais um bom tempo, até que ela chegasse ao aeroporto.

Antes desse fato, eu já havia ficado chocada com o valor da passagem, algo semelhante ao que se paga por um vôo do Sul ao Norte do país. Para completar, a companhia se recusou a pagar pelo almoço de um passageiro que estava em trânsito de Porto Alegre, porque ainda faltavam 15 minutos para que a lei lhe obrigasse a tanto. Quer dizer, na verdade, meus problemas, em particular, ainda nem se completariam com as 4h de van até o aeroporto de Cascavel, dado que, na viagem de volta, a Trip fez exatamente a mesma alegação de aeronave em manutenção, me fazendo esperar por um vôo por mais de 4h na desconfortável lanchonete do micro-aeroporto de Cascavel.

Mas, para além de um desabafo, o que eu quero com este post é chamar a atenção de algum eventual leitor deste esquecido blog para o excesso na presença do Estado, já que a tendência das vítimas de companhias aéreas (bem como daquelas de operadoras de telefonia celular) é cobrarem ainda mais presença do Estado, por meio de novas regulamentações.

Pense no seguinte, por que alguém paga quase mil reais por uma viagem aérea dentro do próprio estado, em vez de, por exemplo, fazer a mesma viagem, confortavelmente, por terra? A resposta é simples: porque o Estado proíbe que uma van faça pelo consumidor o que fez pela Trip. Isso mesmo! É simplesmente proibido que uma companhia de transporte coloque uma van para ligar diretamente Maringá à Cascavel, ou mesmo, mais perto, à Londrina. Muita gente ignora a mão do Estado, que se torna invisível para o grande público nestes casos, mas até mesmo as linhas diretas de ônibus são concessões do Estado, de modo que, mesmo que uma companhia não tenha passageiros para deixar ou apanhar em uma dada cidade, ela é obrigada a entrar nessa cidade e estacionar em sua rodoviária, caso ela não seja a dona da concessão da linha direta a seu destino final. É por essa singela razão que a Trip pode se dar ao luxo de não apenas cobrar valores absurdos em suas passagens, como ainda simplesmente informar seus passageiros de que eles serão, por fim, transportados por terra.

Quer dizer, primeiro, ao impedir a livre concorrência, transformando serviço em concessão, o Estado destrói qualquer interesse que uma empresa poderia ter em satisfazer seu consumidor, aquele coitado refém de uma ou duas opções. Depois, o Estado vende ao cidadão a ideia de que ele precisa estar cada vez mais presente para que ele não seja prejudicado, quando ele poderia perfeitamente ter se limitado a fazer com que os contratos fossem devidamente cumpridos, se ele não tivesse desequilibrado toda a dinâmica do livre mercado.

Para ficarmos com outro exemplo no mesmo contexto, por que o consumidor paga o equivalente a uma boa refeição por um salgadinho e um refrigerante quando está "detido" em um aeroporto? Porque poucos têm concessão para vender alimentos em aeroportos. Se a tia Maria pudesse entrar no aeroporto para vender coxinhas em uma cesta a R$3,00, a lanchonete do aeroporto não poderia vender as suas por R$6,00. É simples assim!

Enfim, talvez, a mão invisível do mercado não seja capaz de resolver todos os problemas da humanidade. Talvez, seja até muito feio esse mundo com aeroportos cheios de ambulantes berrando o preço da sua coxinha. Mas me parece bem claro que a mão do Estado, invisível aos olhos de muitos, cria outros tantos problemas. Por exemplo, ela te faz pagar mil reais para sacolejar estrada à fora.