sábado, 14 de abril de 2012

Brasil: a Matrix petista



Se tem uma coisa que o PT conseguiu fazer com êxito desde a campanha eleitoral que elegeu Lula pela primeira vez - e que, inclusive, explica o sucesso dessa campanha - foi ter incutido no brasileiro a crença de que tudo estaria bem com o país no seu governo. Eu mesma confesso ter sido capturada pela Matrix petista bem depois da campanha e por algum tempo, dado o fenômeno real de expansão da nossa classe média, o que é extremamente desejável.

Todavia, logo eu acordei para a realidade ao me dar conta de que o Brasil não vem fazendo nenhum tipo de progresso estrutural, mas apenas colhendo benefícios circunstanciais da conjuntura econômica mundial. Como todos sabemos, o forte crescimento da China implica na necessidade de que o país importe commodities em grande quantidade, o que beneficia exportadores como o Brasil. Ademais, vivemos uma época muito propícia para os exportadores de alimentos, o que dá grande impulso ao nosso agronegócio. Agora, nada disso implica em real desenvolvimento e industrialização do Brasil. Particularmente, ao passo que muitos neo-nacionalistas olham para a crise européia prevendo um Brasil mais desenvolvido do que aquele continente em 20 anos, eu sou absolutamente cética quanto a isso.

Enquanto os tigres asiáticos, há muito tempo, deram exemplo do quanto o desenvolvimento de um país depende de progressos na educação, enquanto a própria China investe pesadamente na educação das suas novas gerações, o Brasil continua produzindo uma legião de analfabetos funcionais. A nova classe média - sejamos realistas - avançou economicamente, mas não deu um único passo adiante em termos culturais. Pelo contrário, a oferta de bens culturais é que tem sido adaptada às limitações desse novo público, como é o caso da dublagem tornando-se regra na TV a cabo e no cinema, por exemplo. Se há aparente progresso em termos de titulação formal, ele não é acompanhado da respectiva aquisição do conhecimento correspondente.

Por fim, continuamos diante do espetáculo da corrupção de sempre, por mais que o neo-nacionalista atribua tudo que vê e ouve com os próprios olhos e ouvidos a uma maldosa campanha contra o governo promovida pelo tal "PIG". Fernando Collor e Renan Calheiros integram comissão de ética e senadores fingem espanto com práticas correntes de corrupção, que não são patrimônio deste ou daquele partido, como também querem crer os neo-nacionalistas.

Nem sequer me parece possível avaliarmos a dimensão que a corrupção atinge de Brasília a cada repartição pública deste país. Agora, se você acredita que o verdadeiro desenvolvimento econômico de um país é compatível com a corrupção endêmica da sociedade, parabéns, você toma direitinho sua dose diária da pílula azul :-)

4 comentários:

  1. talvez, a médio prazo, esta nova classe média se politize, e assim veríamos ganhos tanto na política quanto na cultura. claro, com a educação como motor. o problema, a meu ver, é que a educação passa por um choque de valores, não encontra um caminho adequado em meio a tantas necessidades sociais não atendidas. lazer, saúde, cultura, esporte, etc., são complementares e devem ser integradas em políticas públicas bem elaboradas e aplicadas. Talvez daí a educação melhore, o cidadão melhore e, nesta ordem, o país.

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    1. Tomara que, um dia, eu tb recupere um pouco do meu antigo otimismo político, Marco. Mas, atualmente, eu confesso que não acredito mais em nenhuma solução macro. Eu vejo o Estado - especialmente no Brasil, mas não exclusivamente no Brasil - como um instrumento pelo qual os mais fracos são submetidos aos mais fortes. E não acho q isso possa ser revertido em uma sociedade gigante, pluralista e complexa. Por isso, penso q o caminho mais justo para o mundo atual seria a aniquilação de todos os Estados e a adoção de soluções micro por cada comunidade. Talvez, isso não gere um mundo de mais bem-estar, mas, certamente, seria um mundo mais moral, em q um não seria submetido ao outro pela força do Estado.

      Muito obrigada pelo comentário e tenha uma ótima semana :-)

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  2. É de fato um pessimismo. Mas um pessimismo teórico, pois tal modelo de soluções micro independentes é, ao menos numa primeira análise, impossível. Tribos se agrupam, sempre. Agora, se falarmos em comunidades que busquem autonomia de gestão (como, por ex., com orçamentos particpativos, consehos regionais de cultura, saúde, educação, etc.), interligadas por um governo central que de fato trabalhe pelo macro e para a maioria, soa mais plausível. E este modelo de Estado, claro, não poderia nascer senão de uma construção democrática, ou seria tão vicioso quanto qualquer outro. Se acredito que o Estado atual, por menor que seja meu conhecimento de causa, é um elemento opressor em função de uma classe dominante, acredito também que mudanças estruturais podem ocorrer advindas daqueles que o compõem. É só tirar o alicerce certo para que uma casa precise de reforma. Acho que ficamos os dois devendo embasamentos maiores, não?

    Faz parte. E por nada, é um prazer. :)

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    1. Então, Marco, como eu vejo, a auto-gestão nunca chegará ao Estado nação. Seria mesmo inviável. Como Rousseau estava certo sobre governos representativos (ninguém representa ninguém), o que acontece é que o grupo que ocupa o poder coloca os demais para trabalharem em prol de seus interesses. 99% trabalhando para 1%

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