sexta-feira, 27 de abril de 2012

Por um mundo menos útil!


Fico pensando, nossa sociedade certamente cultua o corpo, mas será que cultua mesmo a beleza? Tenho impressão que não! O modo como os patrulheiros de plantão censuram minhas escolhas como consumidora me fazem perceber como meus valores são diferentes. Eu simplesmente odeio ter que adquirir um objeto que meramente me seja útil. Sou do tipo que julga, sim, o livro pela capa, e podem me julgar por isso. Aliás, é disso mesmo que estou falando: que tipo de sociedade censura quem julga o livro pela capa?

Ora, não quero dizer com isso que eu reduza o livro à capa, mas sim que eu levo, sim, em consideração a capa. Ela tem que ser bela, criativa, a textura do papel tem que agradar ao toque, etc... Enquanto isso, uma sociedade que censura quem se importa com a estética, que diz que beleza não põe mesa, é uma sociedade que reduziu tudo a relações "custo/benefício". E não me venham culpar o capitalismo por isso - o que, por sinal, nos remeteria ao meu outro post, aquele em andamento - porque o capitalismo nada tem a ver com isso. Pelo contrário, o capitalismo, deliciosamente, vende ilusões, vende o luxo, vende o supérfluo... cria necessidades... Não era isso que dizia o barbudo?

Então, por que nossa sociedade condena o desejo do supérfluo pelo supérfluo? Por que ela aboliu a pura contemplação até mesmo da arte, que não pode mais ser puramente bela (e não é mais nada bela!); tem que ser engajada, conceitual, o escambau... Bom, do mesmo jeito que vocês culpam o capitalismo por tudo, eu escolho como meu bode expiatório o cristianismo. Mas também, só pode ser, né? De onde mais poderia vir a condenação do luxo, que foi herdada até pela própria moral socialista?

E, depois, as pessoas não sabem por que são tão infelizes. Não acho que seja o desejo de luxo não satisfeito que torna nossa sociedade uma sociedade deprimida. Os pobres, por acaso, são mais deprimidos do que os ricos? Penso que boa parte de tanta infelicidade venha justamente da repressão cada vez maior dos nossos anseios mais lúdicos e puramente estéticos. Até viajar, o sujeito viaja só para cumprir a obrigação e dizer que é "viajado". Ele compra um carro pensando em tudo, até - ou principalmente - no status social que o produto vai lhe angariar, mas ele não se permite levar em conta, acima de tudo, o que eu levo: o puro e simples prazer do contato com o objeto. Eu, ao menos, dificilmente encontro uma pessoa que explique uma aquisição ou uma escolha qualquer dizendo pura e simplesmente: eu gosto!

Mas por que deve haver algum motivo além do gosto? Por que alguém tem que justificar racionalmente uma aquisição qualquer? Eu não quero saber se seu telefone tem um processador de 45 núcleos e custa metade do preço do meu, eu só quero saber se ele é tão bonito e gostoso de lidar quanto meu iPhone. Por sinal, Steve Jobs devia ser uma das poucas pessoas que entenderia perfeitamente do que estou falando aqui. Deve ser por isso mesmo que o símbolo da sua empresa é também o símbolo do pecado cristão! ;-)

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