Ainda me lembro bem do dia em que um amigo me apresentou o Parque do Ingá, até hoje, meu lugar favorito na Cidade Verde. Atleta que ele era, achou normal me convidar para dar uma volta em torno do Parque. Resultado: lá pela metade da caminhada, em desespero, eu perguntei a ele se não havia algum atalho para cortarmos caminho por dentro da mata. Como não havia, faltou pouco para que ele tivesse que arrastar meus restos mortais pelo último dos 03 quilômetros. Bom, lá se vão... sei lá... uns 5 anos já! Mas eu sempre penso naquele dia quando termino a quarta e última volta de cada treino no mesmo Parque... correndo ;-)
Eu poderia falar muito sobre os benefícios da corrida para a saúde física e mental, mas não quero bancar a propagandista do Ministério da Saúde. O fato é que correr, para mim, tornou-se uma experiência moral, mas em um sentido muito distante daquele que seria dado pela perseguição de alguma meta de auto-preservação, caso você acredite que um sujeito poderia ter deveres para consigo mesmo. Eu não quero dizer, portanto, que eu julgo aqui como moral o fim da conservação e melhoria da própria saúde. Eu falo de uma experiência moral no sentido em que a corrida representa melhor do que qualquer outra atividade o triunfo da vontade sobre as inclinações naturais. Por isso mesmo, a corrida é o esporte olímpico por excelência, sendo que a chegada da maratona é o ápice dos jogos. Quem corre, a cada passo, diz ao corpo que ele é comandado pela vontade, e não o contrário. Assim, o prazer do corredor, na sua linha de chegada real ou imaginária, é a vivência de um sentimento de auto-respeito, orgulho de si mesmo.
A corrida de rua (tem que ser ao ar-livre, senão não vale!) não é lúdica e social, como a pelada que você joga aos domingos com seus amigos. Ela é espartana e solitária. Por mais que a música dite o ritmo nos fones de ouvido, a sua consciência fala o tempo todo. Para que você vença, ela precisa calar a voz da sua fraqueza interior, que insiste em dizer que você já fez o bastante, que chega por hoje... A corrida, enfim, é para os fortes. Bem entendido, para os espíritos fortes. Se o corpo é fraco, o espírito forte trata de fortalecê-lo. Ainda que isso tome sei lá quantos anos...
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