quinta-feira, 3 de maio de 2012
O pior de dois mundos
Desde que eu me entendo por gente, ouço a ladainha dos economistas sobre a dificuldade de conciliarmos baixos índices de inflação com índices razoáveis de crescimento da economia. Sabe como é, para crescermos, temos que consumir mais; mas, se o consumo aumenta, os preços sobem. Ora, sou leiga em economia, mas, conhecendo ao menos a lei da oferta e da procura, já podemos inferir que, se a inflação vem à reboque do crescimento, é porque o crescimento da oferta, na verdade, não acompanha o crescimento da demanda, o que é típico de um país com economia engessada: o sujeito quer abrir um negócio para atender uma demanda existente, mas esbarra em centenas de regulamentações, encargos, tributos e o diabo. Em outras palavras, quem está estabelecido aproveita a situação de aumento da demanda e aumenta os preços à vontade, porque não há como surgir o concorrente para se aproveitar do boom do setor.
A mesma razão, penso eu, também serve ao menos como um palpite inicial para explicarmos por que os serviços continuam precários - ou, pior, se tornam mais precários ainda - mesmo quando a demanda por eles dispara. Simplesmente, não há como surgir uma grande corrida para atendimento da demanda de tal forma que o mercado selecione naturalmente os bons prestadores. É assim que acabamos com o pior de dois mundos: inflação sem crescimento. Portanto, em suma, o que me parece é que a inflação não decorre do crescimento, mas exatamente da falta de oportunidade para o crescimento que atenderia o aumento da demanda. Nesse sentido, considero muito perigosas as atuais medidas do nosso governo, que visam um aumento imediato da demanda.
Vejam bem, o nosso câmbio, por exemplo, é flutuante só para inglês ver. São as intervenções da autoridade monetária que determinam o valor do dólar. Se não temos câmbio fixo, isso só significa que a vontade dessa autoridade política é insondável: ninguém sabe onde ela quer o câmbio, ou seja, ninguém sabe o quanto ela quer que o dólar suba. De todo modo, quanto mais para o alto jogarem o valor do dólar para beneficiarem os exportadoresmaioria competitivos os importados serão e maior será a demanda por eventuais equivalentes nacionais de menor preço.
Da mesma forma, quando o governo diminui o seu impacto na relação entre os bancos e os tomadores de empréstimo do setor privado ao diminuir o que ele próprio paga de juros como maior tomador, ao mesmo tempo em que ele usa os bancos estatais para gerar concorrência no setor com a oferta de juros mais baratos, ele está gerando demanda, porque ele está aumentando o poder de endividamento da população. Tanto é essa a intenção que a caderneta de poupança será desestimulada justamente para o estímulo do consumo: quem quiser migrar dos investimentos atrelados à Selic mais baixa, não terá a caderneta como opção. Será melhor gastar! Agora, o acesso ao crédito mais barato e o aumento da demanda não se converte imediatamente em novos negócios bem sucedidos, porque, como eu já disse e todos já sabemos, abrir um negócio implica em muito mais do que isso.
Deste modo, ao intervir para gerar demanda no curto prazo ao mesmo tempo em que mantém sua intervenção no sentido de dificultar a oferta, o governo apenas perturba e desequilibra todo um sistema. É como quando a intervenção humana, pensando em um efeito qualquer isolado e imediato, extirpa uma determinada espécie animal de um ecossistema: a longo prazo, todo o ecossistema entrará em crise, dada a interdependência de tantas variáveis em jogo. Consequentemente, ou o governo controla toda a economia, o que implica obviamente em reduzi-la e simplificá-la para poder contê-lá em limites bem determinados, eliminando por completo o mercado; ou ele a libera por completo para o mercado. O intervencionismo, que seria uma terceira via entre o capitalismo e o socialismo, é este criador de crises que aí está, porque uma economia de mercado não é um sistema fechado, com leis precisas e variáveis bem determinadas, no qual se pode predizer, a longo prazo, as consequências para o todo de cada intervenção. Afinal, por menos estúpido que nosso ministro Margarina fosse, ele ainda não seria Deus.
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