domingo, 29 de abril de 2012

Qual a moral da história?


Resolvi cuidar do meu jardim com chuva e tudo hoje, afinal, só tenho tempo aos domingos, sendo que todo domingo tem sido chuvoso mesmo. Como sempre, cortei os galhos secundários, que crescem lateralmente e só servem para roubar a seiva dos galhos do alto, sendo que eles mesmos nunca chegarão ao topo. Pena que, em um caso, só discerni direito o prolongamento do galho e todas as suas ramificações, em meio a um emaranhado de tantos outros, depois que eu já o havia cortado. Ele estava quase alcançando o topo e tinha muito potencial...

sábado, 28 de abril de 2012

Ah, papai, deixa, por favor!



Ontem à noite, eu passava os canais, quando uma TV estatal brasileira (já começa bem!), a TV Brasil, me informou que uma questão de extrema relevância volta a ser debatida por nossos ilustres representantes: o Leviatã deve ou não permitir que supermercados vendam remédios para os quais não se exige receita médica? Vejam só, estamos falando de medicamentos que dispensam a prescrição médica, que, por si só, quando cobrada, já é uma violência estatal contra nossa liberdade.

Agora, vamos fazer de conta que somos bem trouxas... opa, nem precisamos fazer de conta, pois somos mesmo, quase me esqueço... :-) Reformulando então: como somos bem trouxas, nós acreditamos que este debate não diz respeito, sobretudo, a mais uma ingerência indevida do governo na economia, determinando quem pode ou não concorrer em qual setor. Como bons trouxas que somos, acreditemos no discurso oficial sobre a preocupação com nossa saúde, pois ele já é suficientemente revoltante. O cretino do ministro da saúde, por exemplo, em outras palavras, anda dizendo: "será que podemos deixar medicamento ao alcance das crianças?"

Esta discussão que eu nem vi nos maiores noticiários (também, não vejo todos) acaba sendo um belo retrato do povo brasileiro. Um ou outro até reivindica, sempre incoerentemente, o direito isolado de fumar maconha ou de se unir ao companheiro do mesmo sexo, mas, em geral, ninguém dá a mínima para a tutela sistemática exercida pelo nosso Leviatã metido à supernanny. Pelo contrário, é disso que o povo gosta, é isso que o povo quer.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Por um mundo menos útil!


Fico pensando, nossa sociedade certamente cultua o corpo, mas será que cultua mesmo a beleza? Tenho impressão que não! O modo como os patrulheiros de plantão censuram minhas escolhas como consumidora me fazem perceber como meus valores são diferentes. Eu simplesmente odeio ter que adquirir um objeto que meramente me seja útil. Sou do tipo que julga, sim, o livro pela capa, e podem me julgar por isso. Aliás, é disso mesmo que estou falando: que tipo de sociedade censura quem julga o livro pela capa?

Ora, não quero dizer com isso que eu reduza o livro à capa, mas sim que eu levo, sim, em consideração a capa. Ela tem que ser bela, criativa, a textura do papel tem que agradar ao toque, etc... Enquanto isso, uma sociedade que censura quem se importa com a estética, que diz que beleza não põe mesa, é uma sociedade que reduziu tudo a relações "custo/benefício". E não me venham culpar o capitalismo por isso - o que, por sinal, nos remeteria ao meu outro post, aquele em andamento - porque o capitalismo nada tem a ver com isso. Pelo contrário, o capitalismo, deliciosamente, vende ilusões, vende o luxo, vende o supérfluo... cria necessidades... Não era isso que dizia o barbudo?

Então, por que nossa sociedade condena o desejo do supérfluo pelo supérfluo? Por que ela aboliu a pura contemplação até mesmo da arte, que não pode mais ser puramente bela (e não é mais nada bela!); tem que ser engajada, conceitual, o escambau... Bom, do mesmo jeito que vocês culpam o capitalismo por tudo, eu escolho como meu bode expiatório o cristianismo. Mas também, só pode ser, né? De onde mais poderia vir a condenação do luxo, que foi herdada até pela própria moral socialista?

E, depois, as pessoas não sabem por que são tão infelizes. Não acho que seja o desejo de luxo não satisfeito que torna nossa sociedade uma sociedade deprimida. Os pobres, por acaso, são mais deprimidos do que os ricos? Penso que boa parte de tanta infelicidade venha justamente da repressão cada vez maior dos nossos anseios mais lúdicos e puramente estéticos. Até viajar, o sujeito viaja só para cumprir a obrigação e dizer que é "viajado". Ele compra um carro pensando em tudo, até - ou principalmente - no status social que o produto vai lhe angariar, mas ele não se permite levar em conta, acima de tudo, o que eu levo: o puro e simples prazer do contato com o objeto. Eu, ao menos, dificilmente encontro uma pessoa que explique uma aquisição ou uma escolha qualquer dizendo pura e simplesmente: eu gosto!

Mas por que deve haver algum motivo além do gosto? Por que alguém tem que justificar racionalmente uma aquisição qualquer? Eu não quero saber se seu telefone tem um processador de 45 núcleos e custa metade do preço do meu, eu só quero saber se ele é tão bonito e gostoso de lidar quanto meu iPhone. Por sinal, Steve Jobs devia ser uma das poucas pessoas que entenderia perfeitamente do que estou falando aqui. Deve ser por isso mesmo que o símbolo da sua empresa é também o símbolo do pecado cristão! ;-)

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Uma defesa moral do capitalismo - Parte 01



"Capetalismo", diz a pichação, expressando o que vai pela mente de muita gente. Não é só o lugar comum nos centros de humanidades das universidades públicas, é o próprio imaginário popular. Se os preços sobem no supermercado, se o político é corrompido, se a mulher é criticada por estar gordinha, se a criança passa fome na África... todos os males do universo - sim, se bobear, até os Tsunamis - são atribuídos sem exceção ao capitalismo. Pois, neste post, não pretendo argumentar que, bem pelo contrário, o capitalismo tenderia a gerar inclusão, prosperidade e progresso espiritual e material. Quero apenas sugerir que, moralmente falando, o sistema em si parece ser moralmente irreprochável. Tal tarefa não é tão difícil quando temos em vista uma reflexão sobre os valores que estamos aplicando, quando elaboramos um juízo moral. Basicamente, quero argumentar que os detratores do capitalismo, por um lado, confundem o que é acidental ou mesmo contrário ao sistema com o que lhe seria essencial e, por outro lado, empregam em seus juízos valores morais alheios às concepções filosóficas inerentes ao capitalismo, valores estes que, via de regra, não são explicitados e devidamente fundamentados. Em outras palavras, empregam-se valores intrínsecos a outros sistemas para a avaliação do capitalismo, sem que, no entanto, se tenha o cuidado de formular a situação na forma própria de um embate de valores. Dessa questão de valores, eu trato na segunda parte do post, a ser publicada quando Deus permitir ;-)

Começo então a primeira parte deste texto pelo que eu entendo por capitalismo. Naturalmente, eu não pretendo ter uma definição precisa, porque o conceito é mesmo controverso entre os especialistas. Mas penso que podemos admitir como essencial a toda formulação de um conceito mínimo de "capitalismo" que ele englobe os conceitos de propriedade privada - tanto de produtos e força de trabalho quanto de meios de produção - e de livre mercado. Ora, mas com isso já temos um grande problema, porque "livre mercado" significa um mercado sem interferência política, o que, até onde sei, não se realiza em país nenhum do mundo, desde que a própria moeda de cada mercado nacional é cunhada pelo respectivo governo, o que já implica em uma profunda interferência da esfera política sobre a econômica, causando a artificialização, digamos assim, da última esfera. Note-se como exemplo o modo como governos atuais, como o americano talvez mais notadamente, imprimem moeda para o pagamento de suas próprias dívidas descomunais. Assim, é bastante claro que economias como aquelas de que dispomos hoje não representam o que seria a real economia de um mercado livre. Portanto, pode muito bem não ser verdade que o capitalismo em si gere crises socialmente devastadoras, uma vez que sequer existe capitalismo propriamente dito.

O que distorce mais ainda o conceito de "capitalismo", quando aplicamos o termo querendo designar o sistema econômico atual da maior parte do Ocidente e parte do Oriente, é o fato dos governos, naturalmente, não se limitarem à cunhagem de moeda sem lastro real. Há ainda interferências políticas muitos mais escandalosas, como o exercício do protecionismo e o pagamento de subsídios. Ora, seja lá o que for precisamente que chamaremos de "capitalismo", tem que ser absolutamente avesso ao seu espírito que um empresário seja favorecido pela injeção de dinheiro público em seu negócio e/ou pela compra da sua produção pelo Estado com o propósito do seu benefício. Da mesma forma, é indesculpável, de um ponto de vista capitalista, que um governo escolha beneficiar empresários por meio da imposição de prejuízos aos seus concorrentes, como ocorre com os impostos sob importações. E nem vou falar dos "empréstimos" públicos, pelos quais os governos salvam da falência aqueles que, sabendo disso mesmo, optam por correr riscos irracionais. Praticamente como uma implicação do que venho dizendo, devemos notar que a corrupção não é inerente ao capitalismo, mas sim a esse sistema misto de governo que torna o empresário refém do administrador público, afinal, esse tem o poder de quebrar negócios ou impedir que eles quebrem.

A moral dessa história toda é que o resultado desse sistema econômico misto, ou seja lá como queiram chamá-lo, não pode ser considerado um efeito do capitalismo pelo qual esse deva ser julgado. O sistema realmente existente é tão capitalista quanto, por exemplo, socialista. Porém, as intervenções políticas dos governos, que constroem esses Frankensteins completamente fora de controle, são vendidas como se tivessem apenas o efeito de atenuar os efeitos negativos do capitalismo. Até hoje, vende-se com muito sucesso a ideia de que economias politicamente controladas reuniriam em um modelo só o melhor do mundo capitalista e do mundo socialista. Na verdade, a cada crise que esse modelo híbrido gera, ele se fortalece ainda mais, porque atribui o seu efeito nefasto exclusivamente a um capitalismo puro jamais existente.

Era isto que eu tinha a dizer sobre o falso capitalismo que nos é vendido pelos governos e pelas elites empresariais avessas à concorrência capitalista que controlam esses governos, recebendo a interferência estatal a seu favor. Na parte 02, eu trato do caráter do "capitalismo utópico", assim por dizer, ou seja, daquele capitalismo que jamais saiu dos livros de filosofia e economia.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Voto nulo



Face aos candidatos disponíveis, achei decepcionante que as eleições presidenciais francesas não tenham contado com maior abstenção, ou melhor ainda, maior índice de voto nulo/branco. Já fui do tipo que defende a tese do voto no menos pior, mas, hoje, entendo que essa posição apenas perpetua a situação que aí está.

Enquanto votamos sistematicamente no menos pior, ocultamos nossa insatisfação com o próprio sistema, mostramos nosso conformismo com governos economicamente incompetentes e politicamente opressores. Não importa se é um partido de extrema direita que persegue imigrantes ou um partido socialista que suprime liberdades econômicas, opressão e exploração não são privilégios ideológicos da esquerda ou da direita.

Já passou da hora das sociedades se levantarem e darem um basta ao poder dos governos federais, que não representam a ninguém, exceto por seus próprios burocratas sanguessugas, devidamente corrompidos pelas elites econômicas avessas à concorrência do verdadeiro capitalismo.

Que venha uma nova revolução francesa... mas, pelo jeito, ela não ocorrerá na França... ou ainda não desta vez ;-)

Google Drive


O Google acaba de lançar seu tão aguardado serviço de computação em nuvem, o Google Drive. Já existe cliente disponível para PC, Mac e Android. Como estou com preguiça de ligar meu Mac só para isso, ainda não tentei usar o serviço. Usuários do iOS terão que aguardar mais um pouco por um App, o que também me desestimula a instalar já o cliente do Mac. Porém, certamente, vou querer usufruir do serviço assim que possível. Assim como no Sugarsync, são 5GB de espaço gratuito.

Update 27/04/2012: À primeira vista, parece-me a mesma coisa que Dropbox.

Amor, dever e caridade



Posso me arriscar a uma definição sem nem saber se ela já está batida e devidamente criticada? Amor é o sentimento pelo qual você toma o bem-estar do outro como condição necessária do seu próprio bem-estar. Em outras palavras, você não consegue se sentir bem se o ser amado se sente mal. Por isso, por vezes, o amor nos leva a sacrifícios. Sofremos no lugar do ser amado, porque o sofrimento que sentiríamos ao presenciarmos o sofrimento dele seria maior do que aquele que aceitamos sentir no lugar dele.

Com isso, a dinâmica do amor altruísta cabe perfeitamente na dinâmica do egoísmo ou do amor-próprio. Consequentemente, não se pode também dizer, sem melhor qualificação, que quem ama, por vezes, perde o amor-próprio. O que acontece no caso desses apaixonados que amam sem medida é justamente que o amor-próprio, na forma da busca da satisfação imediata, é colocado acima de qualquer limite que poderia ser imposto pelo auto-respeito, assim como das ponderações sobre o bem-estar a longo prazo, mais ou menos como ocorre com os dependentes químicos, de quem também dizemos que perderam o amor-próprio.

Mas este último parágrafo foi mais uma digressão do que qualquer outra coisa. O que eu quero considerar - e, desta vez, não enganei vocês com o título - é a relação entre amor, dever e caridade. Em suma, será que existe dever moral de caridade ou só podemos ajudar alguém por cálculo estratégico ou amor? Que ajudamos pessoas por cálculo estratégico é tão evidente que só o maior dos hipócritas ousaria negar. Certamente, também ajudamos a quem amamos porque os amamos, sendo que existem vários graus de amor e, portanto, vários graus daquele sacrifício que nos dispomos a fazer por amor. Agora, esse altruísmo fundado no amor é algo que nossa sociedade tende a considerar elogíavel, digno de mérito. Por essa razão, as coisas se complicam, afinal, posso perguntar: tenho eu o dever de amar, visto que isso parece até me ser cobrado em alguma medida?

Naturalmente, a resposta tem que ser "não". Um dever deve implicar um poder, de tal forma que a ausência do poder também anula o dever. Assim sendo, como não posso escolher amar, não posso ter o dever de amar. Jesus Cristo, portanto, teria que se explicar melhor com aquela história de colocar o amor na forma de mandamento. Mas, então, na ausência do amor, ainda tenho ao menos o dever de ajudar alguém? Você aí tem o dever de mandar o dinheiro da balada de sábado para as criancinhas famintas da África a quem você nunca viu na vida? OK, você pode me responder dizendo que essa pergunta é tola, pois, como boa kantiana, eu deveria saber que o dever de caridade não especifica ações, mas apenas máximas gerais. Porém, meu ponto é: eu tenho mesmo o dever de adotar uma máxima segundo a qual eu consideraria os fins de outros em meus próprios fins, ou isso simplesmente seria o efeito necessário do tal do amor?

Claro que Kant pensava que a primeira alternativa era a correta. Mas ele nunca me convenceu. Eu poderia adotar como máxima ajudar apenas aqueles que amo ou que poderiam ser úteis a mim de alguma maneira e meu querer seria perfeitamente consistente do ponto de vista racional, não seria? Creio que seria. Mas eu não creio que Kant consideraria essa máxima como um dever, já que ela inclui móbeis empíricos. Enfim, deixemos o Kant para lá ou isto fica parecendo um texto técnico.

O que me parece é que nós tendemos a rejeitar moralmente a máxima que formulei no parágrafo acima, apenas porque somos todos cristãos. Como falei em outro post, é típico do cristianismo ver a humanidade como uma irmandade unida pelo amor que a todos engloba. Portanto, seria moralmente reprovável, do ponto de vista da ética cristã, uma máxima que pressupusesse uma divisão entre os que eu amo e os que eu não amo, estabelecendo um tratamento diferente para cada grupo. Agora, sem o cristianismo, sinto muito, mas não somos todos irmãos. Por mais que tenhamos nos originado do mesmo casal de macacos há sei lá quantos milhares de anos, isso, de jeito nenhum, implica que sejamos irmãos. Irmãos são filhos do mesmo pai (ou Pai) e da mesma mãe. Na verdade, essa nossa relação não cairia nem sob o nosso conceito usual de primos distantes

Agora, se alguém conseguir me explicar por que eu tenho o dever de me importar com outros descendentes dos mesmos macacos longínquos, ficarei eternamente grata pela caridade.