domingo, 27 de maio de 2012

A educação como mercadoria

Como sabem meus milhões de leitores, eu leio pichações nos muros e, ainda por cima, fico pensando sobre elas. Uma pichação no campus sede da UEM diz que "educação não é mercadoria". Parece que também haverá uma palestra sobre isso e, se não me engano, existe até uma campanha sobre o tema rolando por aí (acho que eu roubei a foto acima dela).

Bom, enquanto constatação de fato, como eu falei no meu último post, parece-me que é verdade que "educação não é mercadoria". No Brasil, não existe espaço para um livre mercado da educação, porque o Leviatã dita as regras para tudo quanto é curso e ainda ocupa o sistema de todos os lados, seja ofertando cursos gratuitamente seja injetando recursos em instituições privadas.

Acontece que a pichação que eu citei é normativa, e não uma descrição factual. Ela quer dizer que a educação não deve ser uma mercadoria. E aí eu pergunto: ora, e por que não?

Ter a educação como mercadoria significaria apenas e tão somente que um determinado conteúdo ou uma determinada competência poderia ter seu ensino livremente ofertado por aquele que se julgasse em condições para tanto, em troca de um preço por ele estipulado, ao passo que o interessado em adquirir aquele conteúdo ou competência poderia livremente aceitar a oferta se desejasse pagar o preço estipulado. Que mal há nisso? Acaso é a educação alguma espécie de bem sagrado que não poderia receber um preço? O educador teria que educar por uma espécie de sacerdócio, sem receber para tanto? Por quê?

Se há um problema normativo com relação à educação, a meu ver, ele está representado pela tirania do Estado, que determina, acima dos pais, o que devemos aprender, quando e como. Como se julga que o Estado sabe o que é melhor para o indivíduo melhor do que o próprio indivíduo, julgam os estatistas que haveria um grande mal em deixarem os indivíduos decidirem quais conhecimentos desejam para si e para seus filhos. Pois eu julgo que negar esse direito ao indivíduo é justamente tomar o cidadão como uma criança a ser tutelada pelo pai Estado. Ao decidirem que a educação não pode ser mercadoria, decidem que o cidadão sequer pode decidir se quer ou não ser educado. Ele é forçado a pagar pela educação na forma de impostos, é forçado também a recebê-la e ainda a recebê-la de uma dada maneira.

Nada pode ser mais avesso à liberdade individual do que um Estado educador. Portanto, se tivermos que fazer algum reclame sobre a educação que seja para que ela se torne, sim, mercadoria. Um Estado que tutela seu povo pretendendo que isso seja um meio para o fim de esclarecê-lo não passa de uma grande farsa.

sábado, 26 de maio de 2012

A serviço do Leviatã

A coerência é sempre uma cobrança justa! Por isso mesmo, tratamos com escárnio aquele que se diz socialista enquanto acumula fortuna (Plínio, eu estou falando de você) ou simplesmente se deleita com os prazeres do consumo capitalista que, obviamente, teriam que ser extirpados em um planetinha finito onde 7 bilhões de pessoas viveriam um "igualitarismo radical".

Mas o duro é que eu, que atiro a pedra mais pesada que eu puder no socialista de terno Armani com iPhone no bolso, aparentemente, também tenho meu telhado de vidro. Está escrito aí no meu perfil: sou servidora pública. Eis aí, por sinal, uma coisa de que me envergonho profundamente na vida! No entanto, este post não é para fazer um mea culpa e muito menos para anunciar um pedido de exoneração. Eu quero apenas prestar justas contas àqueles que questionam o fato de uma libertária simpatizante do anarco-capitalismo estar servindo ao Leviatã. Trata-se, afinal, de responder a uma objeção ad hominem, que, embora não afete a causa libertária em si, merece uma resposta por colocar em cheque a minha competência para me colocar como defensora de tal causa.

O ponto que me parece passar despercebido àquele que pensa que os libertários não poderiam ocupar cargos públicos (ou mesmo gozar de serviços públicos) é que o Estado, ao contrário do consumismo de luxo, não se coloca como uma opção. Sua natureza é exatamente a imposição, que, nós, libertários, julgamos imoral. Agora, uma vez que o Estado nos é imposto, só nos resta viver nele, usando a melhor arma de que dispomos contra ele: a palavra.

Penso que haveria um problema moral se o libertário agisse, por exemplo, como um censor de um Estado ditatorial, podendo ter optado por outras profissões. No caso, nós, professores universitários, ainda gozamos da liberdade para defendermos a ideia de um mundo livre mesmo no seio do Estado, embora eu não saiba por quanto tempo ainda seremos tolerados, a julgar pelas restrições cada vez maiores que alguns esquerdistas querem impor à liberdade de expressão no Brasil. Por essa razão, se formos pensar bem, minha profissão não é assim tão divergente do credo libertário. Eu aceito dinheiro oriundo de violência, é verdade, mas o faço para exercer uma atividade que enfraquece o Estado, e não para fortalecê-lo.

Obviamente, o ideal seria que eu pudesse exercer minha profissão e ser paga com recursos privados, o que significa que eu seria paga com dinheiro voluntariamente empregue para esse fim, e não com um dinheiro tomado à força da população. Mas tenho ainda a dizer em minha defesa que o Leviatã domina com tal violência a educação no Brasil que, na prática, é impossível que se forme um verdadeiro livre mercado, onde um professor simplesmente possa oferecer seu serviço a quem queira pagar livremente por ele.

Suponha que eu peça exoneração e abra minha própria escola, em consonância com os valors anarco-capitalistas. Eu não apenas seria forçada a financiar, através de meus impostos, a concorrência gratuita das escolas do Leviatã, como estaria concorrendo com quem tem o poder de obrigar o público a frequentar as suas escolas. É verdade que o público não seria proibido de frequentar a minha escola. Todavia, como ela não seria certificada pelo Leviatã, por ser uma escola livre, que não seguiria o currículo e demais condições ditadas por ele, o meu aluno seria obrigado a frequentar, paralelamente, alguma outra escola pertencente ao sistema do Leviatã, condição esta que tornaria minha escola atrativa para poucos.

Como competir contra esse sistema? Quem, em sã consciência, se arriscaria em um negócio onde é obrigado a se adequar às normas do concorrente e ainda financiá-lo? "Ah, mas não existem tantas escolas privadas?", diz a sua réplica. Pois eu insisto justamente que elas são parte do sistema, porque são obrigadas a praticar um mesmo currículo, a se adequar às mesmas normas e, eventualmente, até mesmo recebem o mesmo dinheiro extorquido da população. Desse modo, não faz muita diferença, do ponto de vista libertário, ser professor de uma universidade pública ou privada. O ponto é que, uma escola verdadeiramente libertária, além de recusar financiamento público, teria também que recusar a chancela do MEC, oferecendo seu próprio currículo. Porém, ao fazer isso, ela se veria reduzida a um nicho minúsculo do mercado, formado por um público refinado que procura o saber apenas pelo saber, um público que, certamente, não existiria em número suficiente fora das grandes metrópoles. É assim que o Leviatã esmaga o mercado da educação e se apodera à força da minha profissão.

Em suma, a educação, no Brasil, é propriedade do Leviatã. A nós, professores, cabem três opções: ou mudamos de profissão; ou reduzimos nossos rendimentos, lecionando aulas particulares que, dada a conjuntura, seriam mais um "bico" do que uma profissão; ou aceitamos o desonroso dinheiro que vem do Leviatã. Eu, particularmente, aceito o dinheiro sujo do Leviatã, enquanto ele me permitir que eu fale contra ele. Mesmo que eu tivesse disposição para heroína, o que não é o caso, não acho que eu seria mais útil à minha causa se eu pedisse exoneração para montar um carrinho de cachorro-quente, abrindo minha vaga para que ela fosse imediatamente preenchida por mais um ideólogo do estatismo. Se, ao menos, eu pudesse ter meu carrinho sem ter que pedir um alvará e pagar impostos para o sustento de um monstro, quem sabe...

domingo, 20 de maio de 2012

Existe propriedade intelectual?


Por causa da polêmica envolvendo o site Livros de Humanas, resolvi reciclar um post que estava publicado em um outro blog meu, que, inclusive, já nem está mais online. O negócio é o seguinte. Eu aceito plenamente o direito à propriedade privada quando se trata de bens materiais, mas eu tenho cá minhas dúvidas, para dizer o mínimo, quando se trata de criações intelectuais. Vejamos.

Suponha que não exista direito à posse individual de objetos físicos. Eu saio de uma casa que eu geralmente chamaria de "minha" por algumas horas e, quando retorno, ela está ocupada por uma família desconhecida, cujo chefe, inclusive, já se instalou no meu escritório e fez-me o favor de apagar toda a memória do "meu" computador para ocupá-la com seu próprio trabalho, e por aí vai... Lembre-se, a rigor, neste cenário, não existe "minha casa", "meu computador", etc... Existiriam apenas bens dos quais eu desfrutaria momentaneamente, sem poder me dar ao luxo de afastá-los do meu corpo e ainda pretender que outros não passassem então a desfrutar deles da mesma maneira que eu desfrutava e com iguais direitos. No caso, eu teria que ir atrás de outra casa, igualmente abandonada pelo ocupante, para passar eu mesma a ocupá-la antes que o ocupante inicial retornasse. Com sorte, a casa contaria com um computador, no qual eu poderia reiniciar o meu trabalho, habitando aí até o próximo momento em que eu tivesse necessidade de me ausentar por mais algum tempo, de tal forma que outro viesse a ocupar o meu lugar.

É claro que, em um cenário assim, as nossas ações ficariam colidindo o tempo todo. Para exercer minha liberdade, eu preciso fazer uso de objetos materiais, de maneira que retirar os objetos das minhas ações a cada vez que eu me afasto fisicamente deles é um modo de obstaculizar minha liberdade. É por isso, se entendi bem e a grosso modo, que o velho Kant concluiu que os objetos do arbítrio precisam ser "possuíveis", ou seja, é preciso que sempre possa haver o "meu" e o "teu". Isso, eu entendo e aceito.

Agora, um outro exemplo. Eu escrevo aqui este post neste blog que chamo de "meu". Suponha que você não seja uma pessoa muito sensata e queira se utilizar sem meu consentimento, não de meu computador, mas de minhas parcas e tolas ideias. Então você reproduz "meu" texto em seu blog e o assina com seu nome. Ora, parece-me que esse ato seria claramente reprovável pela falsidade ideológica que ele representaria. Você simplesmente estaria enganando a quem o lesse, como o aluno que engana o professor em um trabalho, assinando as ideias de autoria alheia colhidas no Google.

Mas e se você atribuísse a mim a autoria do texto, dando os devidos créditos, e apenas reproduzisse o texto sem o meu consentimento? Quer dizer, o seu "pecado" teria sido apenas fazer uma cópia não autorizada de um bem imaterial e, por isso mesmo, reprodutível.

É aí que está! No primeiro exemplo, aquela outra família não copiou a arquitetura da minha casa. Ela me tirou a própria casa e, com isso, limitou a minha liberdade de dar continuidade a ações minhas que estavam em curso. No segundo exemplo, o caso em que você engana o leitor cometendo falsidade ideológica, você induz esse leitor a ações que ele não praticaria por vontade própria se estivesse ciente do que você, por isso mesmo, frauda. Mas, quem faz uma cópia, seja do meu texto seja da forma arquitetônica da minha casa, me tira a possibilidade de executar qual ação por escolha própria? Em suma, qual a relação entre a propriedade intelectual e a liberdade individual?

Hoje em dia, eu reconheço apenas um único princípio moral: o dever de fazer com que minhas ações exteriores não obstaculizem as ações exteriores de alguém mais. Qualquer dever que extrapole o escopo desse princípio anti-fraude e anti-violência tem me cheirado à balela de religiosos. Portanto, eu ficaria contente se alguém me mostrasse como o direito à propriedade intelectual deriva desse princípio libertário. Até que isso aconteça, eu vou ler os meus .pdfs sem nenhum peso na consciência ;-)


sexta-feira, 18 de maio de 2012

Querido Diário


Eu confesso que eu costumo associar o hábito de manter um diário ao comportamento de garotinhas. Se bem que, eu mesma, quando garotinha, não escrevia um. E é aí que está. Bem que eu gostaria de ter escrito. Seria ótimo poder ler minhas impressões originais da infância e da adolescência, em vez de apenas poder me lembrar de como eu me sentia em relação àquelas épocas. Para ser sincera, eu gostaria de me lembrar se, naquele passado já distante, tudo me parecia mesmo tão ruim quanto parece agora, olhando retrospectivamente.

Uma coisa é recordar um catálogo de fatos que você não gostaria de vivenciar outra vez, até porque ninguém teria escolhido passar por eles. Outra coisa é reviver os sentimentos que aqueles fatos de fato ocasionaram em você. Por vezes, a vida do outro lhe parece mais sofrida do que realmente é, simplesmente porque é muito pior do que a sua própria vida. Mas, para o outro mesmo, é a única vida que ele conhece e, por isso mesmo, nem é tão ruim assim. Pois, a nossa própria vida no passado, com o tempo, acaba sendo a vida de um outro e o que você não suportaria de novo no presente acaba parecendo mais insuportável do que de fato foi no passado.

Enfim, eu queria um diário para "ouvir" aquele meu "eu" que se tornou "outro" para mim, eu queria conhecer melhor aquela garotinha que não sou mais. O jeito, agora, é não cometer o mesmo erro e começar a mandar desde já as cartas para o meu velho "eu" de amanhã, supondo que existirá um. Daí que eu tenha começado, meio timidamente, a escrever um diário.

Bom, eu não gosto de papel e caneta, como já contei aqui, neste espaço que não deixa de ser um diário dos meus pensamentos. Comecei então a pesquisar por um App próprio para o fim que eu buscava, já que, hoje em dia, existe um App para quase tudo nesta vida. Achei o tal do "Day One".

A princípio, não achei o App esteticamente tão interessante. Mas tem uma simplicidade elegante, que muito me agrada. Outro ponto que eu muito valorizo, como eu também já falei em outro post, é o canal aberto entre desenvolvedor e consumidor. Eu vi que os desenvolvedores do "Day One" trabalham continuamente no App e sempre deixam os consumidores a par do que está sendo feito. Na verdade, eu confesso que só comprei o App contando com as promessas feitas para as próximas atualizações, sobretudo, a inserção de fotos. De todo modo, o que eles prometiam para a versão atual, funciona perfeitamente. Pode comprar sem medo!

E é isso. Mas onde será que eu vou ler este meu diário se eu chegar a ser uma velhinha? Afinal, o iPad, para o meu "eu" do futuro, será muito menos do que é o papel para quem sou hoje. Será que eu vou ao menos querer ler o que escrevo? Bom, a beleza do diário é esta mesmo: você envia uma carta para um destinatário que ainda não existe, e talvez nem venha a existir, contando sobre um mundo que já terá acabado se a carta estiver sendo lida.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Uma defesa moral do capitalismo - Parte 02

Um dos Gedankenexperiment mais consagrados da história da filosofia certamente é aquele envolvido no conceito de "estado de natureza". Nesta segunda parte do post "Uma defesa moral do capitalismo", recorrerei a esse experimento para sugerir que os valores morais intrínsecos ao capitalismo independem de convenções sociais contingentes, o que não seria o caso dos valores empregues pelos detratores do capitalismo para julgá-lo.

Como sabe - ou deveria saber - toda pessoa minimamente versada em filosofia, o conceito de "estado de natureza" não é um conceito que apele a um tempo histórico anterior à constituição das sociedades civis. Como eu já disse, ele envolve um "experimento de pensamento", portanto, uma situação que apenas pode ser construída na imaginação, e não efetivamente realizada. Sendo assim, trata-se de imaginarmos um estado do qual os governos foram suprimidos, e não de investigarmos um estado no qual ainda não havia governos. A intenção da realização desse experimento - muitas vezes e, certamente, desta vez - é descobrir o que, na condição humana, depende das convenções políticas, só podendo existir graças à formação de sociedades civis, e o que vigora independentemente dos governos. O meu ponto será mostrar que o capitalismo depende de um valor inerente ao "estado de natureza", que só pode, por conseguinte, ser suprimido artificialmente com a formação da sociedade civil, supressão esta que, portanto, precisa ser justificada; ao passo que os críticos do capitalismo se apóiam em valores alheios ao "estado de natureza", que só podem, portanto, ser introduzidos em sociedades civis, introdução esta que, consequentemente, precisa ser justificada.

Muito bem, o que é claro no "estado de natureza" é que ninguém é assinalado para exercer poder sobre os demais. Pode haver o domínio de um sobre o outro pela força e é muito provável que haja mesmo, mas não existe uma qualidade que determine uma ascendência natural de um sobre o outro, de tal forma que se possa dizer que um tem o direito natural de mandar enquanto outro tem o dever natural de obedecer. Em outros termos, no "estado de natureza", se um usa a força para dominar o outro, não há nenhuma justificativa para que se negue a esse outro o direito de lutar com todas as suas forças para resistir à coação sofrida.

Ora, a grande mudança moral que se pretende introduzir no "estado civil", com a constituição de um governo, é justamente a retirada desse direito de resistência ao comando alheio. Quem acredita que o Estado tem justificativa moral não acredita apenas que ele manda, porque pode, enquanto eu obedeço, porque tenho juízo; mas sim que eu tenho o dever moral de obediência ao poder do Estado. Quero extrair disso que, sem a constituição do Estado, eu tenho o direito de lutar com todas as minhas forças para conservar o que tomo como meu e, obviamente, o direito de negociar da forma como eu bem entender o que tomo como meu.

Veja bem, não discuto se outro mais forte não tem igual direito de tentar tomar pela violência o que eu tomo como meu. Não quero tentar justificar o direito natural à propriedade privada no contexto deste post. Por isso, concedo que a propriedade possa ser uma questão de disputa pela força e de eventuais acordos de compartilhamento de bens e respeito à propriedade, quando isso for conveniente aos interessados. O fato é que, se não existir direito natural à propriedade privada, então o outro também não terá mais direito do que eu a nada, de modo que eu ainda terei o direito de lutar pelo que eu quiser, da mesma forma que eu teria o direito de defender meus bens se houvesse direito natural à propriedade privada. Assim, de um modo ou de outro, havendo ou não havendo direito natural à propriedade privada, o importante é que será justamente o direito natural de resistência ao arbítrio alheio que os defensores da moralidade do Estado quererão limitar.

Ora, é da natureza do Estado, o confisco de bens que tomo como meus, pois os impostos nada mais são do que isso. Quem defende moralmente o Estado, defende que eu não tenho o direito de resistir a um arbítrio alheio que vem e toma o que considero como meu e quero conservar assim. Assim, muitos estatistas, reconhecendo-se incapazes de legitimar moralmente o próprio conceito de "IMPOSTO", preferem fingir que ele não existe, como se em democracias modernas e populares, cada indivíduo concordasse espontaneamente em entregar ao menos parte do que considera como seu ao Estado. Pois é óbvio que não é o caso. Onde houver uma lei determinando uma sanção ao indivíduo que se negar a entregar o que é seu ao Estado, lá haverá também coação do arbítrio de um sobre o arbítrio do outro, e pouco importa que o governo tenha sido eleito por 100% da população.

Mas onde eu quero chegar com isso se meu ponto é o capitalismo? Pois bem, meu ponto é justamente que o capitalismo não depende do Estado e, consequentemente, sua legitimidade não depende de uma boa justificativa para o poder do Estado. Uma sociedade capitalista pode ser meramente uma sociedade onde, em nome de cada interesse privado, acontecem acordos de respeito mútuo ao que cada um toma como seu e de cooperação para a resistência àqueles que não aceitarem o acordo. O capitalismo, em outras palavras, é perfeitamente adequado ao "estado de natureza", afinal, nem sequer haveria sentido na luta pela conquista e preservação de bens se não tivéssemos a intenção de negociar o que é nosso com outros. Portanto, seria distintivo de um "estado de natureza" humano, e não meramente animal, que ocorresse a formação de uma economia de mercado para ampliação e conservação do bem-estar de cada um, em vez de vivermos apenas disputando mortalmente o jantar de cada dia.

Note, não quero com isso dizer que não haverá violência no "estado de natureza", mas apenas que, da mesma forma que uns escolherão viver como predadores, outros escolherão formar sociedades para se protegerem dos predadores e negociarem seus bens entre si. O capitalismo depende apenas dessas associações espontâneas, e não da legitimidade de um poder ao qual todos devem se curvar, mesmo quando acham que dessa submissão não decorre benefício algum.

Agora, e os detratores do capitalismo? Como eles se encaixam neste cenário? Eles querem justamente negar o direito de cada um - portanto, tanto do mais fraco quanto do mais forte - de lutarem da melhor maneira possível pelo que julgam como sendo do seu maior interesse. Na verdade, o opositor do capitalismo não quer apenas nos fazer acreditar que existiria um dever de nos submetermos ao arbítrio do outro pacificamente. Ele ainda vai além, querendo utilizar esse poder contra o qual não haveria direito de resistência para instituir uma igualdade material que é completamente estranha ao "estado de natureza".

No "estado de natureza", assim como no capitalismo, não existe igualdade nem mesmo de oportunidades. Uns nascerão fisicamente mais fortes, outros mais bem dotados do ponto de vista intelectual, outros ainda serão politicamente mais habilidosos, enquanto outros virão de famílias mais bem sucedidas e assim por diante. Na verdade, enquanto uns terão tudo isso; outros, talvez, não contem com nada disso. Mas e daí? Para que tal desigualdade seja dita injusta, ela não poderia ser natural. Pelo contrário, ela teria que ser o fruto de uma distribuição equivocada que não teria respeitado princípios eqüitativos previamente estabelecidos. Mas ninguém distribuiu nada no "estado de natureza"! Todas as vantagens de uns sobre outros são apenas fatos naturais. Assim, por que o mais forte teria que aceitar abrir mão de sua vantagem natural em prol do mais fraco? Que razão ele teria para tanto? E, mesmo que ele tivesse alguma razão estratégica para fazer concessões do tipo, por que o mais fraco teria o direito de obrigá-lo a fazer tais concessões?

Eu vejo um grave problema quando o Estado cria vantagens e desvantagens competitivas, justamente porque não vejo nenhuma justificativa moral para que uns sejam privilegiados e outros, preteridos por um grande distribuidor de benefícios. Como eu disse desde o início, ninguém é naturalmente assinalado para uma ascensão sobre os demais. Acontece que, da mesma forma, eu também não vejo razões para que o Estado gere uma igualdade que não lhe antecede. Isso seria praticar violência contra o mais forte, que, afinal, não tomou sua força de outro e nem foi ilegitimamente beneficiado por um distribuidor.

Como conclusão, eu cobro dos detratores do capitalismo uma justificativa do suposto direito que o Estado teria de corrigir a natureza e tentar nivelar o ponto de partida de todos os indivíduos na corrida da vida. Pior ainda, se a intenção deles for acabar com a própria corrida, impedindo o mais forte de competir, em benefício do mais fraco. Naturalmente, os mais fracos teriam o interesse de se unir para virarem o jogo contra os mais fortes. Mas o que eu quero saber é por que vocês acham que isso seria moral, ou seja, por que o mais forte não teria o direito de resistência ao arbítrio alheio que assiste a todos no "estado de natureza". O ônus da prova é todo de vocês.

terça-feira, 15 de maio de 2012

É um para cada um!


Vladimir Safatle acredita que o governo deve zelar pelos nossos reais interesses. Sendo assim, ele descobriu a pólvora no artigo aí linkado no nome dele. Desde que a lei da oferta e da procura determina que os preços de bens disparam quando há muito mais procura do que oferta, se o Estado ordena que cada cidadão compre apenas um bem, o preço desse bem cai e, consequentemente, mais pessoas podem ter acesso ao mesmo. Assim, o filósofo soviético da USP sugere que o Estado proíba o cidadão de adquirir mais de um imóvel em uma mesma cidade.

Brilhante! Inclusive, eu tenho uma sugestão: vamos proibir os gordinhos de comerem mais de um Big Mac por vez. Com isso, o preço do pão cai e os famintos passam a ter como adquiri-lo. Que tal? Poxa, como ninguém pensou em manipular o mercado assim antes?

...Oh, wait...

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Veja isto e jogue fora sua agenda de papel


Bom, meu leitor imaginário já sabe como isto funciona. Se eu tenho um milhão de coisas para fazer, mas me sinto cansada demais para qualquer coisa, então eu me distraio um pouco resenhando coisinhas que gosto :-) Hoje, eu quero falar sobre o App que eu mais uso no meu dia-a-dia e juro que não é só porque ele é lindinho. Ele é meu campeão de acessos, exatamente por causa da correria que é minha vida. E, vou te contar, como ele me ajuda a não pirar!

Com o 2do, eu não preciso mais ficar me lembrando de tudo e nem mesmo preciso olhar minha agenda a todo momento. Basta que eu seja organizada e não deixe de registrar nada nele e ele é quem vai se lembrar de tudo por mim. Mas, não se engane, este App é muito mais do que um programa de lembretes, como o App nativo da Apple, por exemplo. Ele realmente funciona como um organizador completo, tão completo que ele nem sequer agrada pessoas que querem apenas um App para listas de compras e lembretes eventuais. O 2do só é indicado para quem precisa administrar vários projetos, ou seja, combater em várias frentes simultaneamente.

A primeira coisa a fazer quando você instala este App com versão para iOS e Android é personalizar os seus calendários de acordo com suas diferentes frentes de batalha. Alguns calendários, como "Today" e "All", não podem ser alterados, porque isso inutilizaria o App, na medida em que você não teria espaços para visualização centralizada dos compromissos distribuídos por vários calendários. Mas você pode inserir quantos novos calendários quiser. Por exemplo, se você está organizando um grande evento, como, sei lá, seu casamento, você pode criar um calendário só para isso, para ficar mais organizado. Em geral, particularmente, eu uso calendários mais genéricos: pesquisa, relação com estudantes, vida pessoal, tarefas domésticas e assim por diante.

Dentro de cada calendário, você pode criar projetos, que são itens que servem para abrigar diversas tarefas simples e listas sob si. Você também pode optar por criar tarefas simples e listas avulsas dentro dos calendários. Sempre que você cria um item - seja tarefa simples, lista ou projeto - você pode inserir uma enorme gama de informações ao item, como fotos, links, ações devidas, longas notas, data de início e término, alarmes, etc... Inclusive, com as ações, você pode fazer chamadas e enviar e-mails de dentro do App.

A aparência também pode ser customizada, o que, naturalmente, também explica por que gosto tanto deste App ;-) A sincronização, ao menos para mim, funciona perfeitamente bem. Dizem os desenvolvedores que é possível até sincronizar um App instalado em um dispositivo iOS com outro instalado em um dispositivo Android, mas disso eu não posso dizer nada.

Por fim, outro ponto que quero destacar é que os desenvolvedores do App, de fato, atendem os consumidores. Não sei quanto a você, mas eu valorizo, acima de tudo, o atendimento pós-venda. Nisto também, o 2do arrasa (mas note que, infelizmente, eles não falam português).

Então, é isso. O App é pago, mas não é caro, não. É muito mais barato que uma agenda de papel! Por que não usar os recursos que a tecnologia oferece para a organização da sua vida para não se sentir atordoado por tantas tarefas simultâneas?

domingo, 13 de maio de 2012

Marx e eu


Gostaria de ter tempo para voltar a estudar Marx, coisa que só fiz na graduação e no início do mestrado. Cada vez mais, acho que o barbudo acertou em muita coisa no varejo, por mais que eu recuse sua doutrina no atacado, afinal, libertária que sou, eu não me tornaria comunista nem em 15 encarnações de leitura do Capital.

O fato é que eu gostaria de conhecer mais a fundo a crítica de Marx ao que os marxistas chamam de "Estado burguês". Por mais que eu discorde dos marxistas quanto à nova ordem que deveria surgir ou surgiria, uma vez superado o tal "Estado burguês", o fato é que eu tendo a concordar com os marxistas quanto à canalhice intelectual de se apoiar o que aí está.

O social-democrata europeu ou liberal americano é sempre visto como o moderado sensato, enquanto nós, marxistas e libertários, somos os loucos radicais da filosofia política. Ademais, aqueles intelectuais de centro-esquerda gozam do benefício de exibirem uma imagem pró-oprimidos e anti-opressores. Nada poderia ser mais falso! Veja-se o governo de Obama e o governo do PT como dois singelos exemplos: migalhas para o povo e fortunas para a elite. Enquanto isso, ambos os governos são apoiados pelos intelectuais de esquerda que gostam de se gabar de não serem "radicais".

Como me parece que diria o velho da foto, são políticos e intelectuais colocando o Estado a serviço da elite econômica para opressão dos demais, com o discurso ideal para esconder esse fato. Nisso, eu concordo inteiramente. É isso que nós, libertários, chamamos de "crony capitalism".

sábado, 12 de maio de 2012

Coletivismo e ambientalismo


Em Mein Kampf, Hitler diz com todas as letras que o indivíduo (no caso, se me lembro bem do contexto, o soldado ariano) deve se sacrificar por sua raça. Assim, o nazismo é uma espécie do gênero "coletivismo", conjunto de doutrinas segundo as quais a coletividade precede a individualidade. Aliás, note-se bem que, neste ponto, a extrema direita toca a extrema esquerda: são variações de um gênero comum. Assim também o princípio do ambientalismo - quando ele faz algum sentido e não se reduz a uma adoração hippie da natureza - é o sacrifício do bem-estar individual em nome da preservação da espécie.

Por um lado, o ambientalista parece ter anseios primitivistas, desejando uma sociedade sem carros, onde o consumo privilegie os produtores locais e por aí vai. Por outro lado, paradoxalmente, ele parece um fanático cientificista, que se agarrou com unhas e dentes à teoria segundo a qual o progresso da nossa civilização gerou o aquecimento global, que, por sua vez, destruirá nossa espécie em 20 anos ou algo assim.

De minha parte, como eu não sou meteorologista nem nada, não vou debater teses científicas. Porém, sabendo da falibilidade intrínseca às predições da ciência em geral, bem como do baixo índice de acerto daquele ramo da ciência em particular, tenho cá minhas dúvidas sobre haver razão para tanto alarmismo, ainda mais com tantos interesses políticos envolvidos. Ademais, ainda que fosse certo concluirmos que, a seguirmos como vamos, acabaremos com o mundo em poucas décadas, essa ainda pareceria ser uma predição fadada ao fracasso dado o simples fato de que, por decisão política ou não, não continuaremos mesmo da mesma forma. O progresso tecnológico das últimas décadas nos mostrou que nem sequer temos como saber exatamente que tipo de tecnologia teremos em 20 ou 30 anos, portanto, que tipo de vida estaremos vivendo.

Considerações técnicas à parte, de todo modo, o meu ponto diz respeito à correção moral dessa cobrança para que abramos mão dos confortos que a técnica moderna tornou-se capaz de nos oferecer em nome de indivíduos inexistentes: as futuras gerações. De que vale que ainda haja espécie se, para sua preservação, cada indivíduo tiver que sacrificar boa parte do prazer de viver que teria condições de proporcionar para si? De que vale, afinal, a preservação de uma espécie por si mesma? E daí se a própria humanidade deixar de existir um dia? Na verdade, mais cedo ou mais tarde, a extinção de toda espécie é inevitável no eterno devir que a tudo devora. Eu, particularmente, nem desconfio do porquê de um indivíduo ter que adotar uma perpetuação imaginada de sua espécie como seu próprio fim. O que existe, afinal, são indivíduos que podem ou não ser felizes aqui e agora. Sendo assim, que cada um busque sua felicidade sem interferir com a mesma busca por parte de outro indivíduo existente. Toda demanda moral que vai além dessa exigência parece-me filosofia vã ou política mal intencionada.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Chocolate e protecionismo

No último Mundo S.A., aquele programa da Globo News, a Lacta teve a cara-de-pau de se gabar de dois fatos que envergonhariam qualquer fábrica de chocolate do mundo: Primeiro, seu chocolate é mais "docinho e ao leite", leia-se, leva menos massa de cacau e mais açúcar e leite. Segundo, ela só vende no Brasil, não exporta nem para o Paraguai. Como quem quer tripudiar da nossa inteligência, a Lacta ainda diz que atende bem ao "gosto do brasileiro", mostrando como os dois fatos acima estão conectados.

Ora, não se pode falar em gosto, no sentido de "preferência", se você não conhece alternativas. Por mais subjetivo que seja o paladar e, portanto, por mais empírica/contingente que seja esta minha aposta, eu duvido muito que alguém prefira um chocolate Lacta uma vez que prove, por exemplo, um Lindt.

O que a Lacta vende como "gosto do brasileiro", na verdade, é a falta de opção do brasileiro, condenado pelo Leviatã a pagar quase R$20,00 por uma barra de chocolate Lindt, justamente para que ele não descubra a porcaria que é o leite com açúcar que a Lacta vende. E assim funciona o protecionismo: o empresário local pode se acomodar e oferecer a porcaria que ele quiser ao consumidor, porque este último nem desconfia do que ele poderia consumir pelo mesmo valor. Por que, afinal, a Lacta aumentaria a quantidade de massa de cacau no seu chocolate e, portanto, o custo do seu produto, comprometendo seus lucros, se ela só tem a temer a fraca concorrência nacional?

Nos EUA, por exemplo, um mercado muito mais livre do que o nosso, apesar dos Democratas no poder, o chocolate Lindt, importado também lá, é vendido praticamente pelo preço do chocolate Lacta no Brasil. Resultado? Existem marcas americanas quase tão boas quanto a Lindt. As inferiores, por sua vez, são bem mais baratas.

Assim, eu pergunto, a quem serve o protecionismo? Bom, a resposta a essa pergunta, o presidente da Lacta conhece muito bem.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

A gente precisa do Estado, porque...


Já tem um tempo que estou querendo escrever este post, mas a chuva aos domingos andou atrapalhando meus passeios ciclísticos, de modo que demorou para eu poder tirar as fotos que eu queria. O negócio é que, sempre que eu olho para os rebaixamentos que a prefeitura de Londrina fez nas calçadas do bairro vizinho ao meu, o Jardim Bandeirantes, eu não consigo deixar de pensar no quanto essa pequena obra simboliza toda a farsa por trás do Estado.

Pense bem, um argumento que sempre surge contra o anarquismo é que os membros de uma comunidade, por si só, ou seja, espontaneamente, jamais cooperariam uns com os outros sem objetivo de lucro, de modo que seria necessário o Estado para a tomada de iniciativas que favorecem os menos favorecidos, que ficariam desamparados de outra maneira. Pois o meu contra-argumento, nesses casos, é sempre que, se uma comunidade qualquer não se configura de tal forma que os seus membros estejam dispostos à cooperação sem coação, não é a coação estatal que conseguirá fazer as vezes dessa colaboração espontânea inexistente.

O caso que eu fotografei ilustra bem o que eu tenho em mente. Ninguém se importaria com os cadeirantes, ninguém tomaria a iniciativa de facilitar o trânsito deles, então o Estado se apresenta, toma nossos impostos à força e faz a obra devida para o trânsito dos cadeirantes. Mas, agora, dê uma olhada nesta outra foto, que retrata o estado da mesma calçada poucos metros adiante do rebaixamento da foto acima.


Você acha mesmo que algum cadeirante conseguiria transitar por esta calçada? O que adiantou fazer o rebaixamento então? Foi apenas desperdício de dinheiro público e nada mais, afinal, o caso da foto não é nenhuma exceção: é simplesmente o estado geral de conservação das calçadas do bairro. Os moradores, por exemplo, plantam árvores cujas raízes destroem as calçadas, depois, retiram as árvores e deixam raízes expostas e calçadas destruídas. Também é comum - e de fato, acontece alguns metros adiante do local que aparece na foto acima - que as calçadas sejam simplesmente interditadas ad eternum com material de construção e entulhos. Para completar, muitos visitantes e moradores estacionam seus carros completamente sobre as calçadas. Para terem uma ideia, eu circulo com dificuldades pelas calçadas do bairro usando uma mountain bike. Imaginem se fosse um cadeira de rodas!

Então é este o meu ponto: quando uma sociedade apodrece de dentro para fora, perdendo qualquer noção de preocupação com o bem-estar e respeito ao espaço do outro, não é o Estado que vai conseguir impor a boa sociabilidade de fora para dentro. Pelo contrário, o Estado sempre será apenas um efeito da sociedade que ele rege. Por isso mesmo, ele parece funcionar apenas lá onde ele não é necessário, dada a civilidade da população. Em sociedades doentes como a nossa, o Estado torna-se apenas uma chaga a mais.

domingo, 6 de maio de 2012

Avaliação contínua


Só para compartilhar com os amigos professores (e futuros professores), considero muito positiva a experiência que estou tendo aplicando diversas avaliações distribuídas ao longo do semestre. No caso, pela primeira vez, estou trabalhando com quatro dissertações redigidas em sala de aula a respeito de passagens previamente selecionadas das obras estudadas no curso. O resultado é que, a esta altura do meu curso, eu estou ciente de como cada aluno processou cada conteúdo ministrado, além de saber bem das tais "competências e habilidades" que cada um possui como pontos fortes e fracos. Melhor ainda, eu pude acompanhar e participar de evoluções individuais muito interessantes.

Se tivermos em vista que a avaliação visa a descoberta das deficiências do aluno para que possamos ajudá-lo a corrigi-las, então o melhor a fazer é justamente detectar essas deficiências o quanto antes e continuamente. Se deixarmos a avaliação para o final do curso, ou simplesmente se concentrarmos as avaliações em um ou dois momentos chaves, tudo que teremos a fazer será determinar que o aluno refaça toda a disciplina (reprove), o que, muitas vezes, poderia ter sido evitado se tivéssemos descoberto o problema a tempo e tivéssemos trabalhado com o aluno por uma solução gradativa.

Naturalmente, por meio das avaliações contínuas, o professor também pode ter clareza sobre a necessidade de retomar tópicos e problemas que pareciam, mas apenas pareciam, ter sido devidamente concluídos. Uma coisa que a experiência me ensinou é que não podemos simplesmente perguntar aos alunos se o conteúdo ministrado foi compreendido, seguindo em frente com confiança se a resposta for positiva. Parafraseando o velho Einstein, em citação já usada e abusada do Facebook ao Google+, você só sabe aquilo que você sabe explicar em termos simples e claros. Sendo assim, o aluno não pode ser um mero ouvinte. Ele precisa ser agente do seu processo de aprendizado, produzindo explicações claras dos conteúdos que ele deve aprender. Na maioria das vezes, o aluno não mente quando responde que entendeu um ponto qualquer. Ele apenas não sabe que não sabe. O que ele sabe ou não é o que sempre temos que descobrir com urgência.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Awesome Note


Quando você tem muito que fazer e acha que vai pirar em meio à sua "to do list", nada melhor do que parar uns minutos e fazer algo completamente inútil e prazeroso para relaxar um pouco. Então, eu resolvi cumprir agora uma promessa que ninguém iria me cobrar: resenhar um bom App organizador. No caso, escolhi o Awesome Note, que eu realmente uso todos os dias.

Bom, para começar pelas desvantagens, saiba que ele não é assim um Evernote, um App que faz tudo e mais aquele pouco que você nem tinha imaginado que precisaria. Ele é muito mais limitado em termos de anexos: apenas imagens e mapas; além de não ter servidor próprio. Mas, ao menos, ele tem a grande vantagem sobre o Evernote gratuito de permitir que você acesse tudo offline. Além disso, ele é muitíssimo mais barato do que o Evernote premium, sendo que você paga o baixo valor apenas uma vez, enquanto o Evernote premium exige assinatura.

Outra grande bola fora desse App que eu adoro é que os desenvolvedores agem de má-fé na sua apresentação, anunciando que ele sincronizaria notas e pastas entre suas versões iPhone e iPad. Isso não é verdade! O que ele faz é download e upload alternados para sua conta no Evernote ou no Google Docs (agora, Google Drive). Isso significa que, se você inserir uma informação no App em um aparelho e clicar em "sync now", ele fará o upload do arquivo para o servidor escolhido. Então, se você clicar em "sync now" no App em outro aparelho, ele fará o download do arquivo e tudo funcionará perfeitamente. O problema é que, se você fizer mais uma alteração no arquivo no primeiro aparelho e clicar em "sync now" nele novamente, antes de fazer a "sincronização" no segundo aparelho, ele fará o download do arquivo que estava na sua conta do Evernote ou do Google, apagando do primeiro aparelho o arquivo mais atualizado. Imagina como eu fiquei feliz ao descobrir isso! Queria matar o desenvolvedor!

Mas, apesar desse pesar, eu sigo usando o App, porque, além de ser muito bonito, ele cumpre muito bem as outras promessas que faz. Uma característica que eu aprecio muito é que ele pode ser customizado à exaustão, o que, inclusive, cansa de verdade a muita gente, mas não a mim. Você pode criar pastas à vontade e atribuir cores, ícones e títulos a elas. Inclusive, há opções de ícones coloridos bem mais bonitos do que os que aparecem na imagem acima. Feito isso, você pode definir um background padrão para as notas da pasta, bem como uma fonte e um tipo de nota (diário, nota comum, "to do"). Há muitas opções de plano de fundo e belas fontes, sendo que o fato de você definir um padrão para a pasta não te impede de alterar a escolha para cada nota, mesmo depois de criada.

Ao criar a nota (ou mesmo depois), você pode definir data e hora à vontade, diferentemente do que ocorre com o Pad & Quill, que insere apenas hora e data atuais. Por sinal, o Awesome Note possui um calendário integrado que irá mostrar as notas com as cores que você tiver atribuído à pasta respectiva a ela. No iPhone, o calendário do App sincroniza eventos com o calendário nativo do aparelho. Se você escolher "to do" como tipo de nota, você também pode programar lembretes para suas tarefas. Também é possível inserir fotos nas notas e até mesmo usar a câmera do iPhone de dentro do App. Você ainda pode inserir um mapa da sua localização e fazer anotações diretamente sobre ele.

Enfim, eu, particularmente, uso o Awesome Notes para programar minhas viagens, preparar as minhas aulas em formato de diário, guardar um diário do meu curso de inglês e guardar e-mails em que eu discuto filosofia com colegas/amigos. Os projetos maiores, que exigem muitos arquivos anexos de todos os tipos, como projeto de pesquisa e organização de eventos, eu reservo para o Evernote, que é mais robusto. O Pad & Quill, eu reservo para os insights e anotações de aulas, palestras, reuniões acadêmicas de trabalho teórico... Claro que eu poderia fazer no Awesome Note tudo que eu faço com o Pad & Quill e acho que eu poderia fazer com o Evernote quase tudo que eu faço com o Awesome Note. Mas a coisa tem que ter graça também e eu gosto de brincar com meus Apps bonitinhos ;-) Falando nisso, deixa eu voltar para o que não tem graça...

quinta-feira, 3 de maio de 2012

O pior de dois mundos



Desde que eu me entendo por gente, ouço a ladainha dos economistas sobre a dificuldade de conciliarmos baixos índices de inflação com índices razoáveis de crescimento da economia. Sabe como é, para crescermos, temos que consumir mais; mas, se o consumo aumenta, os preços sobem. Ora, sou leiga em economia, mas, conhecendo ao menos a lei da oferta e da procura, já podemos inferir que, se a inflação vem à reboque do crescimento, é porque o crescimento da oferta, na verdade, não acompanha o crescimento da demanda, o que é típico de um país com economia engessada: o sujeito quer abrir um negócio para atender uma demanda existente, mas esbarra em centenas de regulamentações, encargos, tributos e o diabo. Em outras palavras, quem está estabelecido aproveita a situação de aumento da demanda e aumenta os preços à vontade, porque não há como surgir o concorrente para se aproveitar do boom do setor.

A mesma razão, penso eu, também serve ao menos como um palpite inicial para explicarmos por que os serviços continuam precários - ou, pior, se tornam mais precários ainda - mesmo quando a demanda por eles dispara. Simplesmente, não há como surgir uma grande corrida para atendimento da demanda de tal forma que o mercado selecione naturalmente os bons prestadores. É assim que acabamos com o pior de dois mundos: inflação sem crescimento. Portanto, em suma, o que me parece é que a inflação não decorre do crescimento, mas exatamente da falta de oportunidade para o crescimento que atenderia o aumento da demanda. Nesse sentido, considero muito perigosas as atuais medidas do nosso governo, que visam um aumento imediato da demanda.

Vejam bem, o nosso câmbio, por exemplo, é flutuante só para inglês ver. São as intervenções da autoridade monetária que determinam o valor do dólar. Se não temos câmbio fixo, isso só significa que a vontade dessa autoridade política é insondável: ninguém sabe onde ela quer o câmbio, ou seja, ninguém sabe o quanto ela quer que o dólar suba. De todo modo, quanto mais para o alto jogarem o valor do dólar para beneficiarem os exportadoresmaioria competitivos os importados serão e maior será a demanda por eventuais equivalentes nacionais de menor preço.

Da mesma forma, quando o governo diminui o seu impacto na relação entre os bancos e os tomadores de empréstimo do setor privado ao diminuir o que ele próprio paga de juros como maior tomador, ao mesmo tempo em que ele usa os bancos estatais para gerar concorrência no setor com a oferta de juros mais baratos, ele está gerando demanda, porque ele está aumentando o poder de endividamento da população. Tanto é essa a intenção que a caderneta de poupança será desestimulada justamente para o estímulo do consumo: quem quiser migrar dos investimentos atrelados à Selic mais baixa, não terá a caderneta como opção. Será melhor gastar! Agora, o acesso ao crédito mais barato e o aumento da demanda não se converte imediatamente em novos negócios bem sucedidos, porque, como eu já disse e todos já sabemos, abrir um negócio implica em muito mais do que isso.

Deste modo, ao intervir para gerar demanda no curto prazo ao mesmo tempo em que mantém sua intervenção no sentido de dificultar a oferta, o governo apenas perturba e desequilibra todo um sistema. É como quando a intervenção humana, pensando em um efeito qualquer isolado e imediato, extirpa uma determinada espécie animal de um ecossistema: a longo prazo, todo o ecossistema entrará em crise, dada a interdependência de tantas variáveis em jogo. Consequentemente, ou o governo controla toda a economia, o que implica obviamente em reduzi-la e simplificá-la para poder contê-lá em limites bem determinados, eliminando por completo o mercado; ou ele a libera por completo para o mercado. O intervencionismo, que seria uma terceira via entre o capitalismo e o socialismo, é este criador de crises que aí está, porque uma economia de mercado não é um sistema fechado, com leis precisas e variáveis bem determinadas, no qual se pode predizer, a longo prazo, as consequências para o todo de cada intervenção. Afinal, por menos estúpido que nosso ministro Margarina fosse, ele ainda não seria Deus.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O conhecimento e o mercado



Outro dia, eu queria ler um artigo online, mas eis que me cobravam mais de USD30,00 pelo acesso a ele, o que me fez desistir. A bem da verdade, isso me acontece toda hora. Pensei que apenas gente como eu sofria desses males, afinal, sou pobre, pão-dura e, ainda por cima, trabalho na periferia do mundo acadêmico, o que ocasiona que minha instituição também não tenha recursos para garantir meu acesso à toda bibliografia que preciso para o meu trabalho. Mas eis que, hoje, vejo este artigo sobre a bronca de Harvard com os altos preços praticados pelas editoras dos periódicos. Ora, se está ruim até para Harvard, imagina para mim!

Naturalmente, como sou uma defensora do livre mercado no sentido estrito da expressão, não condeno moralmente um autor que vise o lucro com sua obra. Porém, se o objeto da sua obra é o conhecimento, não posso deixar de notar que a transformação da obra em artigo de luxo é um tiro no próprio pé, afinal, o conhecimento pressupõe a publicidade, justamente porque o seu desenvolvimento está atrelado à crítica por seus pares. Assim, se você se torna famoso e vende caro o acesso à sua obra científica, você restringe de tal maneira o público que terá acesso a ela que você pode deixar de receber exatamente a análise crítica que mais lhe interessaria. Portanto, não por generosidade, mas por interesse na evolução do próprio trabalho, quer me parecer que o acadêmico teria boas razões para publicar a sua obra da forma mais acessível que lhe fosse possível.

Ademais, quando se trata de um pesquisador que, por ventura, tenha tido sua pesquisa financiada com recursos públicos, aí, sim, não me parece moralmente aceitável que seja cobrado do público o acesso ao resultado da pesquisa. Isso se aplica, sobretudo, ao Brasil, onde mesmo os pesquisadores vinculados a universidades privadas gozam do fomento das agências públicas. Já é suficientemente grave que todo o público pague o salário de professores que educarão apenas a uma pequena parcela privilegiada da população. Qualquer nível de decência mínima é extrapolado quando o público não pode sequer ler o resultado das pesquisas que a universidade pública produz ou que agências públicas financiam.

É claro, no entanto, que o que restringe o acesso ao resultado das pesquisas, via de regra, nem sequer é o desejo de lucro do pesquisador. Eu mesma, por exemplo, jamais fui paga por uma publicação. O problema é a pressão que sofremos para que nossas pesquisas apareçam em revistas devidamente qualificadas, nem sempre disponíveis a todos, e não em quaisquer sites da internet.

Em parte, é verdade, essa pressão é benéfica, porque as revistas qualificadas submetem nossos trabalhos a pareceristas que prestam valiosas contribuições. Francamente, o simples fato de você saber que seu trabalho será submetido a um parecerista capacitado (mais de um, na verdade) já aumenta muito o seu empenho e rigor na produção do texto (não é como escrever este blog, por exemplo).

Todavia, podem existir outras maneiras de avaliarmos o mérito de um trabalho e incentivarmos o empenho em sua produção, sem que tenhamos que levar em consideração o veículo em que o trabalho foi divulgado. Penso que a candidata óbvia à substituição seja justamente a análise da repercussão do seu trabalho no trabalho dos seus pares. Por exemplo, cada universidade manteria um site para divulgar a pesquisa do seu corpo docente e dicente. O mérito seria atribuído àqueles trabalhos que fossem linkados o maior número de vezes nos sites das demais universidades. Fica aí a ideia ;-)

A dor

Nenhum ser humano busca a dor. Mesmo o masoquista busca o prazer decorrente da dor física. Há também, por exemplo, aqueles que reforçam o sofrimento pelo prazer que obtêm na piedade alheia. Mas ninguém tem a dor como fim.

Ainda que não possa ser fim em si mesma, porém, os exemplos patéticos e doentios que citei acima já evidenciam suficientemente que a dor pode ser boa como um meio.

É certo que ela destrói os fracos sempre que eles não conseguem se refugiar de todo sentir, seja na dependência química de drogas seja na dependência psicológica das religiões. Mas, pelo próprio contraste, é belo o que a dor faz pelos fortes.

A dor enternece corações ao mesmo tempo em que fortalece a vontade. Ela, e somente ela, propicia insights sobre o que houver de mais profundo na vida. As mentes mais analíticas também recebem da dor a introspeção necessária para seu desenvolvimento. O que dizer então dos efeitos da dor sobre o gênio do artista?

Mas, talvez, quem sabe, haja também aqueles que simplesmente não sofram, blindados de alma que já nasceram. Será possível? Se for, então que seja: eles existem! Mas é certo que eles não vivem...

terça-feira, 1 de maio de 2012

Meu Moleskine


Vou confessar uma coisa, tenho uma certa compulsão por cadernos de anotação e afins. Não é só o fato de eu precisar de algo em que escrever, já que, afinal, minha compulsão maior é pelo ato de escrever em si. Tem a ver, sobretudo, com o que eu dizia outro dia sobre o meu desejo de me cercar de objetos que me dão prazer pelo seu simples manuseio. Um caderninho Moleskine, por exemplo, é o tipo de objeto que tem um valor estético que ultrapassa em muito sua mera utilidade.

Acontece que, ao longo dos anos, eu fui acumulando cadernos e blocos que acabaram se tornando inúteis pelo fato de eu não ter mais como localizar neles algum insight em específico ou, pior, aquela lista de referências bibliográficas que me seriam muito úteis. Daí que a substituição dos cadernos de papel por um iPad revelou-se de grande vantagem. Ter minhas notas em formato digital, afinal, é tê-las sempre organizadas, re-editáveis e a salvo do mofo dos meus armários. Porém, é óbvio que, tendo os valores que tenho, eu não estaria disposta a abrir mão do prazer estético do manuseio das minhas notas. É aí que entra o App Pad & Quill. Ele se parece muito com um Moleskine "de verdade", sendo muito superior ao próprio App Moleskine.

Com o App Pad&Quill, que, por sinal, é muito mais barato do que um Moleskine "de verdade", você pode criar quantos cadernos quiser, dando um título e escolhendo uma bela capa para cada um deles. Abrindo o caderno, você pode usar marcadores de página e também pode dar um título para cada nova nota, a fim de que elas apareçam automaticamente organizadas no índice do caderno. Ainda é possível acrescentar a data e o horário de criação de cada nota ao topo da página. O App sincroniza pelo iCloud entre o iPad e o iPhone, sem que você tenha que fazer qualquer esforço. Basta criar uma nota ou caderno em um aparelho e ela ou ele aparecerão no outro.

O mais legal, é claro, é o fato de você poder escolher bonitas fontes e fundos de página bem realistas. Como mostra a imagem acima, o ato de virar a página também imita um caderno "real". No entanto, esse propósito de imitar ao máximo o desempenho e a aparência de um caderno analógico, naturalmente, também implica em algumas desvantagens. O App não conta, por exemplo, com a opção de inserção de imagens ou quaisquer arquivos anexos, bem como não dispõe de um calendário com lembretes por alarme. Enfim, você não deve esperar dele o desempenho de uma agenda ou organizador digitais, mas sim uma otimização do seu antigo Moleskine. Em outro post, assim que me der vontade, eu recomendarei dois aplicativos que cumprem perfeitamente a função de organizadores, obviamente, também com muita classe e elegância ;-)

Olha só que legal!


Caros amigos, achei este post tão bacana que resolvi compartilhá-lo aqui no meu blog também. A autora do post, como poderão ver, lista uma imensa quantidade de fontes online pelas quais podemos nos auto-educar. A propósito, também gostei muito do espírito pró-auto-didata do texto que ela escreveu para acompanhar a lista. 

De fato, a internet está repleta de oportunidades maravilhosas para adquirirmos conhecimentos de todas as áreas, muitas vezes, gratuitamente. Infelizmente ou apenas naturalmente, é claro que a imensa maioria prefere gastar todo seu tempo online atualizando seu status em redes sociais do modo mais ridículo possível, mas procure se lembrar de que existe muita vida inteligente na rede, para além dos "kkkk" e dos "memes". Fato é que, com o advento da internet, mais do que nunca, nós somos, sim, imputáveis pela nossa ignorância ;-)