domingo, 29 de abril de 2012
Qual a moral da história?
Resolvi cuidar do meu jardim com chuva e tudo hoje, afinal, só tenho tempo aos domingos, sendo que todo domingo tem sido chuvoso mesmo. Como sempre, cortei os galhos secundários, que crescem lateralmente e só servem para roubar a seiva dos galhos do alto, sendo que eles mesmos nunca chegarão ao topo. Pena que, em um caso, só discerni direito o prolongamento do galho e todas as suas ramificações, em meio a um emaranhado de tantos outros, depois que eu já o havia cortado. Ele estava quase alcançando o topo e tinha muito potencial...
sábado, 28 de abril de 2012
Ah, papai, deixa, por favor!
Ontem à noite, eu passava os canais, quando uma TV estatal brasileira (já começa bem!), a TV Brasil, me informou que uma questão de extrema relevância volta a ser debatida por nossos ilustres representantes: o Leviatã deve ou não permitir que supermercados vendam remédios para os quais não se exige receita médica? Vejam só, estamos falando de medicamentos que dispensam a prescrição médica, que, por si só, quando cobrada, já é uma violência estatal contra nossa liberdade.
Agora, vamos fazer de conta que somos bem trouxas... opa, nem precisamos fazer de conta, pois somos mesmo, quase me esqueço... :-) Reformulando então: como somos bem trouxas, nós acreditamos que este debate não diz respeito, sobretudo, a mais uma ingerência indevida do governo na economia, determinando quem pode ou não concorrer em qual setor. Como bons trouxas que somos, acreditemos no discurso oficial sobre a preocupação com nossa saúde, pois ele já é suficientemente revoltante. O
Esta discussão que eu nem vi nos maiores noticiários (também, não vejo todos) acaba sendo um belo retrato do povo brasileiro. Um ou outro até reivindica, sempre incoerentemente, o direito isolado de fumar maconha ou de se unir ao companheiro do mesmo sexo, mas, em geral, ninguém dá a mínima para a tutela sistemática exercida pelo nosso Leviatã metido à supernanny. Pelo contrário, é disso que o povo gosta, é isso que o povo quer.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Por um mundo menos útil!
Fico pensando, nossa sociedade certamente cultua o corpo, mas será que cultua mesmo a beleza? Tenho impressão que não! O modo como os patrulheiros de plantão censuram minhas escolhas como consumidora me fazem perceber como meus valores são diferentes. Eu simplesmente odeio ter que adquirir um objeto que meramente me seja útil. Sou do tipo que julga, sim, o livro pela capa, e podem me julgar por isso. Aliás, é disso mesmo que estou falando: que tipo de sociedade censura quem julga o livro pela capa?
Ora, não quero dizer com isso que eu reduza o livro à capa, mas sim que eu levo, sim, em consideração a capa. Ela tem que ser bela, criativa, a textura do papel tem que agradar ao toque, etc... Enquanto isso, uma sociedade que censura quem se importa com a estética, que diz que beleza não põe mesa, é uma sociedade que reduziu tudo a relações "custo/benefício". E não me venham culpar o capitalismo por isso - o que, por sinal, nos remeteria ao meu outro post, aquele em andamento - porque o capitalismo nada tem a ver com isso. Pelo contrário, o capitalismo, deliciosamente, vende ilusões, vende o luxo, vende o supérfluo... cria necessidades... Não era isso que dizia o barbudo?
Então, por que nossa sociedade condena o desejo do supérfluo pelo supérfluo? Por que ela aboliu a pura contemplação até mesmo da arte, que não pode mais ser puramente bela (e não é mais nada bela!); tem que ser engajada, conceitual, o escambau... Bom, do mesmo jeito que vocês culpam o capitalismo por tudo, eu escolho como meu bode expiatório o cristianismo. Mas também, só pode ser, né? De onde mais poderia vir a condenação do luxo, que foi herdada até pela própria moral socialista?
E, depois, as pessoas não sabem por que são tão infelizes. Não acho que seja o desejo de luxo não satisfeito que torna nossa sociedade uma sociedade deprimida. Os pobres, por acaso, são mais deprimidos do que os ricos? Penso que boa parte de tanta infelicidade venha justamente da repressão cada vez maior dos nossos anseios mais lúdicos e puramente estéticos. Até viajar, o sujeito viaja só para cumprir a obrigação e dizer que é "viajado". Ele compra um carro pensando em tudo, até - ou principalmente - no status social que o produto vai lhe angariar, mas ele não se permite levar em conta, acima de tudo, o que eu levo: o puro e simples prazer do contato com o objeto. Eu, ao menos, dificilmente encontro uma pessoa que explique uma aquisição ou uma escolha qualquer dizendo pura e simplesmente: eu gosto!
Mas por que deve haver algum motivo além do gosto? Por que alguém tem que justificar racionalmente uma aquisição qualquer? Eu não quero saber se seu telefone tem um processador de 45 núcleos e custa metade do preço do meu, eu só quero saber se ele é tão bonito e gostoso de lidar quanto meu iPhone. Por sinal, Steve Jobs devia ser uma das poucas pessoas que entenderia perfeitamente do que estou falando aqui. Deve ser por isso mesmo que o símbolo da sua empresa é também o símbolo do pecado cristão! ;-)
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Uma defesa moral do capitalismo - Parte 01
Começo então a primeira parte deste texto pelo que eu entendo por capitalismo. Naturalmente, eu não pretendo ter uma definição precisa, porque o conceito é mesmo controverso entre os especialistas. Mas penso que podemos admitir como essencial a toda formulação de um conceito mínimo de "capitalismo" que ele englobe os conceitos de propriedade privada - tanto de produtos e força de trabalho quanto de meios de produção - e de livre mercado. Ora, mas com isso já temos um grande problema, porque "livre mercado" significa um mercado sem interferência política, o que, até onde sei, não se realiza em país nenhum do mundo, desde que a própria moeda de cada mercado nacional é cunhada pelo respectivo governo, o que já implica em uma profunda interferência da esfera política sobre a econômica, causando a artificialização, digamos assim, da última esfera. Note-se como exemplo o modo como governos atuais, como o americano talvez mais notadamente, imprimem moeda para o pagamento de suas próprias dívidas descomunais. Assim, é bastante claro que economias como aquelas de que dispomos hoje não representam o que seria a real economia de um mercado livre. Portanto, pode muito bem não ser verdade que o capitalismo em si gere crises socialmente devastadoras, uma vez que sequer existe capitalismo propriamente dito.
O que distorce mais ainda o conceito de "capitalismo", quando aplicamos o termo querendo designar o sistema econômico atual da maior parte do Ocidente e parte do Oriente, é o fato dos governos, naturalmente, não se limitarem à cunhagem de moeda sem lastro real. Há ainda interferências políticas muitos mais escandalosas, como o exercício do protecionismo e o pagamento de subsídios. Ora, seja lá o que for precisamente que chamaremos de "capitalismo", tem que ser absolutamente avesso ao seu espírito que um empresário seja favorecido pela injeção de dinheiro público em seu negócio e/ou pela compra da sua produção pelo Estado com o propósito do seu benefício. Da mesma forma, é indesculpável, de um ponto de vista capitalista, que um governo escolha beneficiar empresários por meio da imposição de prejuízos aos seus concorrentes, como ocorre com os impostos sob importações. E nem vou falar dos "empréstimos" públicos, pelos quais os governos salvam da falência aqueles que, sabendo disso mesmo, optam por correr riscos irracionais. Praticamente como uma implicação do que venho dizendo, devemos notar que a corrupção não é inerente ao capitalismo, mas sim a esse sistema misto de governo que torna o empresário refém do administrador público, afinal, esse tem o poder de quebrar negócios ou impedir que eles quebrem.
A moral dessa história toda é que o resultado desse sistema econômico misto, ou seja lá como queiram chamá-lo, não pode ser considerado um efeito do capitalismo pelo qual esse deva ser julgado. O sistema realmente existente é tão capitalista quanto, por exemplo, socialista. Porém, as intervenções políticas dos governos, que constroem esses Frankensteins completamente fora de controle, são vendidas como se tivessem apenas o efeito de atenuar os efeitos negativos do capitalismo. Até hoje, vende-se com muito sucesso a ideia de que economias politicamente controladas reuniriam em um modelo só o melhor do mundo capitalista e do mundo socialista. Na verdade, a cada crise que esse modelo híbrido gera, ele se fortalece ainda mais, porque atribui o seu efeito nefasto exclusivamente a um capitalismo puro jamais existente.
Era isto que eu tinha a dizer sobre o falso capitalismo que nos é vendido pelos governos e pelas elites empresariais avessas à concorrência capitalista que controlam esses governos, recebendo a interferência estatal a seu favor. Na parte 02, eu trato do caráter do "capitalismo utópico", assim por dizer, ou seja, daquele capitalismo que jamais saiu dos livros de filosofia e economia.
terça-feira, 24 de abril de 2012
Voto nulo
Face aos candidatos disponíveis, achei decepcionante que as eleições presidenciais francesas não tenham contado com maior abstenção, ou melhor ainda, maior índice de voto nulo/branco. Já fui do tipo que defende a tese do voto no menos pior, mas, hoje, entendo que essa posição apenas perpetua a situação que aí está.
Enquanto votamos sistematicamente no menos pior, ocultamos nossa insatisfação com o próprio sistema, mostramos nosso conformismo com governos economicamente incompetentes e politicamente opressores. Não importa se é um partido de extrema direita que persegue imigrantes ou um partido socialista que suprime liberdades econômicas, opressão e exploração não são privilégios ideológicos da esquerda ou da direita.
Já passou da hora das sociedades se levantarem e darem um basta ao poder dos governos federais, que não representam a ninguém, exceto por seus próprios burocratas sanguessugas, devidamente corrompidos pelas elites econômicas avessas à concorrência do verdadeiro capitalismo.
Que venha uma nova revolução francesa... mas, pelo jeito, ela não ocorrerá na França... ou ainda não desta vez ;-)
Google Drive
Update 27/04/2012: À primeira vista, parece-me a mesma coisa que Dropbox.
Amor, dever e caridade
Posso me arriscar a uma definição sem nem saber se ela já está batida e devidamente criticada? Amor é o sentimento pelo qual você toma o bem-estar do outro como condição necessária do seu próprio bem-estar. Em outras palavras, você não consegue se sentir bem se o ser amado se sente mal. Por isso, por vezes, o amor nos leva a sacrifícios. Sofremos no lugar do ser amado, porque o sofrimento que sentiríamos ao presenciarmos o sofrimento dele seria maior do que aquele que aceitamos sentir no lugar dele.
Com isso, a dinâmica do amor altruísta cabe perfeitamente na dinâmica do egoísmo ou do amor-próprio. Consequentemente, não se pode também dizer, sem melhor qualificação, que quem ama, por vezes, perde o amor-próprio. O que acontece no caso desses apaixonados que amam sem medida é justamente que o amor-próprio, na forma da busca da satisfação imediata, é colocado acima de qualquer limite que poderia ser imposto pelo auto-respeito, assim como das ponderações sobre o bem-estar a longo prazo, mais ou menos como ocorre com os dependentes químicos, de quem também dizemos que perderam o amor-próprio.
Mas este último parágrafo foi mais uma digressão do que qualquer outra coisa. O que eu quero considerar - e, desta vez, não enganei vocês com o título - é a relação entre amor, dever e caridade. Em suma, será que existe dever moral de caridade ou só podemos ajudar alguém por cálculo estratégico ou amor? Que ajudamos pessoas por cálculo estratégico é tão evidente que só o maior dos hipócritas ousaria negar. Certamente, também ajudamos a quem amamos porque os amamos, sendo que existem vários graus de amor e, portanto, vários graus daquele sacrifício que nos dispomos a fazer por amor. Agora, esse altruísmo fundado no amor é algo que nossa sociedade tende a considerar elogíavel, digno de mérito. Por essa razão, as coisas se complicam, afinal, posso perguntar: tenho eu o dever de amar, visto que isso parece até me ser cobrado em alguma medida?
Naturalmente, a resposta tem que ser "não". Um dever deve implicar um poder, de tal forma que a ausência do poder também anula o dever. Assim sendo, como não posso escolher amar, não posso ter o dever de amar. Jesus Cristo, portanto, teria que se explicar melhor com aquela história de colocar o amor na forma de mandamento. Mas, então, na ausência do amor, ainda tenho ao menos o dever de ajudar alguém? Você aí tem o dever de mandar o dinheiro da balada de sábado para as criancinhas famintas da África a quem você nunca viu na vida? OK, você pode me responder dizendo que essa pergunta é tola, pois, como boa kantiana, eu deveria saber que o dever de caridade não especifica ações, mas apenas máximas gerais. Porém, meu ponto é: eu tenho mesmo o dever de adotar uma máxima segundo a qual eu consideraria os fins de outros em meus próprios fins, ou isso simplesmente seria o efeito necessário do tal do amor?
Claro que Kant pensava que a primeira alternativa era a correta. Mas ele nunca me convenceu. Eu poderia adotar como máxima ajudar apenas aqueles que amo ou que poderiam ser úteis a mim de alguma maneira e meu querer seria perfeitamente consistente do ponto de vista racional, não seria? Creio que seria. Mas eu não creio que Kant consideraria essa máxima como um dever, já que ela inclui móbeis empíricos. Enfim, deixemos o Kant para lá ou isto fica parecendo um texto técnico.
O que me parece é que nós tendemos a rejeitar moralmente a máxima que formulei no parágrafo acima, apenas porque somos todos cristãos. Como falei em outro post, é típico do cristianismo ver a humanidade como uma irmandade unida pelo amor que a todos engloba. Portanto, seria moralmente reprovável, do ponto de vista da ética cristã, uma máxima que pressupusesse uma divisão entre os que eu amo e os que eu não amo, estabelecendo um tratamento diferente para cada grupo. Agora, sem o cristianismo, sinto muito, mas não somos todos irmãos. Por mais que tenhamos nos originado do mesmo casal de macacos há sei lá quantos milhares de anos, isso, de jeito nenhum, implica que sejamos irmãos. Irmãos são filhos do mesmo pai (ou Pai) e da mesma mãe. Na verdade, essa nossa relação não cairia nem sob o nosso conceito usual de primos distantes
Agora, se alguém conseguir me explicar por que eu tenho o dever de me importar com outros descendentes dos mesmos macacos longínquos, ficarei eternamente grata pela caridade.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Em que sentido queremos ser iguais?
Nos posts anteriores, comentei brevemente meu desassosego com relação ao sentido dos conceitos de bem comum e justiça social. Depois, abri meu Facebook para gerenciar solicitações de amizade e eis que me deparo com imagens (é claro!), nas quais Rosa Luxemburgo era citada clamando por igualdade social. Pouco me importa se as citações estavam corretas ou não. O que eu fiquei pensando é se aquelas pessoas que usavam tais imagens para bradar por igualdade social haviam pensado realmente no que queriam. Sabe como é, há que se tomar cuidado com nossos desejos: eles podem se tornar realidade! Agora, será que realmente desejamos que a ideia de igualdade social se realize?
Naturalmente, se entendermos igualdade social como a igualdade de todos perante a lei, o conceito torna-se pouco problemático, ao menos para um liberal, afinal, sem esse sentido de igualdade, não há liberdade, visto que a vontade de uns sempre sofreria limites indevidos. Explico. Se o grupo privilegiado perante a lei fosse privilegiado no sentido de não ter que obedecer leis que obrigam um cidadão a não coagir outro, então esse grupo poderia tiranizar o restante da sociedade, por exemplo, através da escravidão. Se, por outro lado, um grupo fosse privilegiado no sentido de ter que obedecer apenas leis que determinam que um cidadão não coaja outro, ao passo que os demais grupos teriam que obedecer leis mais amplas, então o Estado é que estaria tiranizando diretamente o grupo excluído do privilégio, limitando sua liberdade injustamente. É isso que acontece quando o Estado faz leis que impedem apenas um determinado grupo de adquirir propriedades, por exemplo. Assim, a igualdade de todos perante a lei decorre da ideia de que o Estado deve respeitar a liberdade individual, entendida como independência do arbítrio de um com respeito ao arbítrio de outro.
Claro, você pode negar o princípio da liberdade individual para poder negar coerentemente a igualdade formal de todos perante a lei. Mas eu acredito que poucos dos meus poucos leitores estejam dispostos a afirmar que eles nasceram seja para mandar em outro seja para obedecer a outro. Ao menos da boca para fora, a nossa sociedade tende a sustentar que nenhum indivíduo (ou grupo) humano nasceu com uma distinção especial que lhe dá o direito de governar, como a um pai, sobre todos os demais. É ao negar essa tese, como Locke, por exemplo, já o fizera no Segundo Tratado, que aceitamos a liberdade individual como um direito natural (como Kant dirá depois de Locke: o único direito inato).
Bom, é óbvio que não é nesse sentido liberal que Rosa Luxemburgo e seus asseclas clamam por igualdade social. Eles querem a igualdade material de todos, ou seja, o fim da divisão entre ricos e pobres. Eu fico imaginando então que tipo de transformação a realização desse ideal traria para nossa sociedade. Veja bem, não se trata apenas de tentar tirar um pouco dos bilionários para dar aos miseráveis, como no discurso do demagogo presidente americano. Trata-se de transformar a sociedade de tal forma que seja impossível que um acumule mais riquezas do que outro, pois a acúmulo de capital, afinal de contas, é a essência do diabólico capitalismo.
Ok, como vai ser então? Naturalmente, não temos as mesmas habilidades e competências, muito menos possuímos as mesmas disposições para o trabalho. À primeira vista então, teremos um regime injusto no qual os desiguais são recompensados de forma igual. Mas isso é contornado pela ideia de que foi a mera sorte ou mesmo a situação privilegiada pregressa que me fez mais habilidosa e disposta ao trabalho do que uns e menos do que outros. Assim, não importa se você deu a sorte de ter braços fortes e conseguir plantar uma data inteira de mandiocas em um único dia, azar o seu, vai acumular de toda essa força de trabalho disponível o mesmo que aquele que planta dois pés de alface por dia. Ora, certamente, nós todos concordamos que isso é muito justo :-) Mas será que é viável?
Se todos receberão a mesma recompensa, cada um explorará o seu potencial até as últimas consequências? Suponha que tomemos a Apple (aliás, uma pena que ela não tenha sede na Argentina, ou poderia ser expropriada mais facilmente!) e implantemos nela um regime de trabalho tal que ninguém possa enriquecer mais que outro. Os chineses da linha de produção receberão o mesmo que os engenheiros de Cupertino. Ou melhor ainda talvez, todos trabalharão um pouquinho na linha de produção e um pouquinho em Cupertino, recebendo o mesmo salário. Na verdade, o operârio chinês e o engenheiro californiano precisam retirar da Apple a mesma riqueza que o nosso fortão do parágrafo acima retira da sua plantação de mandiocas e também o mesmo valor que o fraquinho retira da plantação de alface. Melhor ainda talvez, eles precisam plantar um pouquinho de mandioca e alface também, ao passo que o fortão e o fraquinho precisam também desenhar e montar computadores!
Francamente, nesse cenário, alguém vai conseguir (ou mesmo se preocupar em) criar a próxima maravilha tecnológica? Ah, mas é aí que está! O capitalismo cria necessidades falsas para nos escravizar. Ninguém precisa de iPhone ou Chanel! Precisamos apenas de amor e mandioca!
OK, não tenho mais argumentos! Eu me rendo à Rosa Luxemburgo! Apenas me faça um favor, acrescente um homem das cavernas clamando por igualdade social no seu próximo cartaz de Facebook. Oops, talvez, também seja uma boa ideia não usar Facebook, muito menos se você estiver digitando de um iPad ;-)
domingo, 22 de abril de 2012
O ateu cristão
Hoje em dia, é "cool" ser de esquerda e mais "cool" ainda ser ateu. Porém, não é nada "cool" ser marxista revolucionário. Portanto, encontramos muita gente descolada com a configuração ideológica: "esquerdista-reformista ateu". O problema é que, na maioria dos casos - e dando continuidade ao que eu dizia abaixo sobre trapaças semânticas da política -, essa gente não tem a menor ideia do que diz quando fala, por exemplo, em "justiça social". Explico.
Quando se é marxista, se tem disponível o conceito de "mais-valia", que implica na convicção de que há um regime de exploração inerente ao capitalismo: o burguês enriquece graças à mais-valia gerada pelo operário. Assim, poderíamos entender a "justiça social" como uma espécie de devolução ao operário pobre daquilo que, afinal, era dele mesmo.
Agora, e se abandonamos Marx, como muitos esquerdistas "cool" abandonaram, e passamos a ver o valor da mão-de-obra como um mero resultado da lei da oferta e da procura? Desse modo, o trabalhador só pode ser considerado injustiçado se for coagido a trabalhar para quem lhe paga abaixo do valor de mercado de sua mão-de-obra. Não há mais nenhuma exploração inerente à relação de compra e venda da mão-de-obra, ou, ao menos, nenhuma que seja evidente, dispensando maiores esclarecimentos e justificativas.
Nesse cenário, o esquerdista "cool" precisa justamente então de um novo esquema conceitual para explicar qual a injustiça da relação trabalhista a ser reparada por um sistema estatal de redistribuição de renda. O problema é que, em minhas conversas com a tribo dos esquerdistas "cool", tenho notado que eles não dispõem desse esquema. Há apenas uma noção intuitiva de que os ricos devem ajudar os pobres, sendo que o Estado teria todo direito de coagir aqueles ricos que se furtassem a fazê-lo por bem. Na verdade, na opinião deles, o Estado tem por principal função tirar dos ricos para dar aos pobres, produzindo igualdade social por executar a "justiça social".
Mas qual o argumento por trás dessa convicção tão enraigada? Ora, sei que há o esquerdista "cool" mais sofisticado, que lê Rawls e tal, mas a grande maioria, por mais filósofo ou cientista social que se diga, tenho visto, apenas subscreve aos valores da sociedade cristã em que se criou. Somos todos irmãos em Cristo, devemos amar o próximo como a nós mesmos, etc, etc...
Assim, veja, eu até entenderia o esquerdista cristão querendo erigir um Estado cristão, por mais que isso remeta, a meu ver, a alguma confusão quanto ao que é de Cezar. O problema mesmo é o mocinho "cool" que abandonou o cristianismo e, agora, quer colocar como um dogma acima de toda necessidade de prova que eu tenha deveres positivos e materiais para com gente que nem conheço e, pior ainda, que o Estado possa (e deva) me obrigar a cumprir com esses deveres. Ai ai... Ateus cristãos, vão até ali tomar um gole de coerência (de repente, estudar um pouco de Rawls e companhia) e, depois, a gente conversa ;-)
sexta-feira, 20 de abril de 2012
A política e as trapaças semânticas
Em "Sobre o sentido e a referência", Frege exige que nenhum nome próprio seja usado sem que, antes, nos certifiquemos de que ele possui um referente, ou seja, designa de fato um objeto. Essa exigência, que repercutirá tão profundamente na ontologia do Tractatus de Wittgenstein, é um pressuposto necessário do sentido das proposições que podem ser verdadeiras ou falsas.
Não me parece difícil entendermos, ainda que grosseiramente, o que Frege tem em mente. Desde que, para ele, a asserção é uma passagem do nível da apreensão do mero pensamento, isto é, do sentido das sentenças para o nível da referência das sentenças, se os nomes que compõem as sentenças não possuírem referência, tampouco as sentenças terão uma referência, ou seja, poderão ser verdadeiras ou falsas. Assim, uma linguagem perfeita precisa ser uma linguagem sem termos vazios.
O que chama minha atenção é o modo como o próprio Frege, imediatamente, apresenta as possíveis implicações políticas de suas teses lógicas. Falando sobre os "abusos demagógicos" resultantes da falta de atenção para com a exigência explicitada acima, ele diz: "'A Vontade do povo' pode servir como exemplo; pois é fácil perceber que não há, de modo algum, uma referência geralmente aceita para essa expressão".
Eu penso que Frege tenha toda razão! Nossa época ainda é pródiga do (ab)uso político de conceitos cuja referência é pouco clara e cujo apelo popular, não obstante, é muito forte. Não há político que não fale em "bem comum", "interesse público"... e assim por diante.
Para ficarmos só com um exemplo, o tão edificante "bem comum" não teria que ser a simples adição do bem-estar de cada um? Porém, se for assim, como ele seria possível, uma vez que o meu bem-estar sempre pode, contextualmente, conflitar com o seu? O emprego que eu quero é o que você também quer! O sorriso que eu gostaria de ter recebido foi endereçado a você. E assim é, que eu saiba, desde que Caim matou Abel...
Mas, se não for essa a referência do conceito, o que é então esse bem do todo que não designa simplesmente o bem-estar somado de cada uma das partes sem exceção? Será que podemos aceitar tão tranquilamente que exista um bem que seja comum a todos sem que ele represente a harmonia do que é explicitamente reconhecido e perseguido por cada um? Mais fundamentalmente, o que pode ser também o meu bem, posto que é o bem comum, e, ao mesmo tempo, divergir daquilo que eu deliberadamente busco e que sempre pode encontrar em você um obstáculo?
Enfim, a política, meus amigos, contém todo tipo de trapaça, inclusive, as semânticas ;-)
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Triunfo da Vontade
Ainda me lembro bem do dia em que um amigo me apresentou o Parque do Ingá, até hoje, meu lugar favorito na Cidade Verde. Atleta que ele era, achou normal me convidar para dar uma volta em torno do Parque. Resultado: lá pela metade da caminhada, em desespero, eu perguntei a ele se não havia algum atalho para cortarmos caminho por dentro da mata. Como não havia, faltou pouco para que ele tivesse que arrastar meus restos mortais pelo último dos 03 quilômetros. Bom, lá se vão... sei lá... uns 5 anos já! Mas eu sempre penso naquele dia quando termino a quarta e última volta de cada treino no mesmo Parque... correndo ;-)
Eu poderia falar muito sobre os benefícios da corrida para a saúde física e mental, mas não quero bancar a propagandista do Ministério da Saúde. O fato é que correr, para mim, tornou-se uma experiência moral, mas em um sentido muito distante daquele que seria dado pela perseguição de alguma meta de auto-preservação, caso você acredite que um sujeito poderia ter deveres para consigo mesmo. Eu não quero dizer, portanto, que eu julgo aqui como moral o fim da conservação e melhoria da própria saúde. Eu falo de uma experiência moral no sentido em que a corrida representa melhor do que qualquer outra atividade o triunfo da vontade sobre as inclinações naturais. Por isso mesmo, a corrida é o esporte olímpico por excelência, sendo que a chegada da maratona é o ápice dos jogos. Quem corre, a cada passo, diz ao corpo que ele é comandado pela vontade, e não o contrário. Assim, o prazer do corredor, na sua linha de chegada real ou imaginária, é a vivência de um sentimento de auto-respeito, orgulho de si mesmo.
A corrida de rua (tem que ser ao ar-livre, senão não vale!) não é lúdica e social, como a pelada que você joga aos domingos com seus amigos. Ela é espartana e solitária. Por mais que a música dite o ritmo nos fones de ouvido, a sua consciência fala o tempo todo. Para que você vença, ela precisa calar a voz da sua fraqueza interior, que insiste em dizer que você já fez o bastante, que chega por hoje... A corrida, enfim, é para os fortes. Bem entendido, para os espíritos fortes. Se o corpo é fraco, o espírito forte trata de fortalecê-lo. Ainda que isso tome sei lá quantos anos...
Eu poderia falar muito sobre os benefícios da corrida para a saúde física e mental, mas não quero bancar a propagandista do Ministério da Saúde. O fato é que correr, para mim, tornou-se uma experiência moral, mas em um sentido muito distante daquele que seria dado pela perseguição de alguma meta de auto-preservação, caso você acredite que um sujeito poderia ter deveres para consigo mesmo. Eu não quero dizer, portanto, que eu julgo aqui como moral o fim da conservação e melhoria da própria saúde. Eu falo de uma experiência moral no sentido em que a corrida representa melhor do que qualquer outra atividade o triunfo da vontade sobre as inclinações naturais. Por isso mesmo, a corrida é o esporte olímpico por excelência, sendo que a chegada da maratona é o ápice dos jogos. Quem corre, a cada passo, diz ao corpo que ele é comandado pela vontade, e não o contrário. Assim, o prazer do corredor, na sua linha de chegada real ou imaginária, é a vivência de um sentimento de auto-respeito, orgulho de si mesmo.
A corrida de rua (tem que ser ao ar-livre, senão não vale!) não é lúdica e social, como a pelada que você joga aos domingos com seus amigos. Ela é espartana e solitária. Por mais que a música dite o ritmo nos fones de ouvido, a sua consciência fala o tempo todo. Para que você vença, ela precisa calar a voz da sua fraqueza interior, que insiste em dizer que você já fez o bastante, que chega por hoje... A corrida, enfim, é para os fortes. Bem entendido, para os espíritos fortes. Se o corpo é fraco, o espírito forte trata de fortalecê-lo. Ainda que isso tome sei lá quantos anos...
terça-feira, 17 de abril de 2012
O que te torna um filósofo, afinal?
Tá bom, já vou confessar o título enganoso. Claro que um bloguizinho qualquer como este não vai te dizer em um post o que é ser filósofo. Se este fosse um blog honesto, o título deste post seria: "notas sobre o modo como vejo o ofício do filósofo", ou "considerações a partir da minha visão da atividade do filósofo", ou qualquer outro desses títulos que inventamos quando só queremos dar uns pitacos sobre o assunto, sem a pretensão de esgotá-lo. O negócio é que, como boa blogueira, eu já aprendi com os jornalistas que convém sensacionalizar nos títulos para garantir o "click" :-)
Enfim, vamos ao que interessa. O fato é que uns 16 anos depois de ter feito minha escolha profissional, apesar de todos os pesares da vida acadêmica, ainda estou convicta dela. Se eu pudesse voltar atrás, ainda chocaria minha mãe, contando que me inscrevi para o vestibular de filosofia. Na verdade, quando ela começasse a me dizer que eu não precisava escolher o vestibular mais fácil, pois não tinha problema se eu demorasse anos para entrar na universidade, eu daria a mesma resposta que dei em 1996, só que com ainda mais convicção: "é filosofia mesmo que eu quero!"
Sendo assim, eu mesma me pergunto o que eu encontrei na filosofia que tanto me realizou. Quer saber? Em um mundo tão louco, na filosofia, ainda pude encontrar a tal da racionalidade. Era só isso que eu estava procurando quando, aos 16 anos, decidi dedicar minha vida à filosofia. Eu não queria mudar o mundo, eu não queria provar a validade de alguma convicção... A bem da verdade, eu nem tinha nenhuma convicção, eu só fazia uma pergunta obsessivamente: "existem razões para fazermos algo ou acreditarmos em algo?" Eu era, portanto, o perfeito produto de um mundo já secularizado há muito, que havia vivido há pouco a queda de um muro e, com ele, do comunismo. Não havia mais nenhuma religião disponível para mim! Claro, meus colegas, como muitos jovens de hoje, tolos e insensíveis, ainda eram evangélicos determinados ou militavam ferozmente em partidos políticos radicais. Mas não eu! Aos 16 anos, a minha alma já abrigava todo o ceticismo que o ser humano poderia suportar. Só na filosofia, eu poderia encontrar refúgio.
Se alguém consultar o meu lattes, verá então que meu primeiro artigo, publicado por volta dos meus 19 ou 20 anos, versava justamente sobre o problema da fundamentação última na filosofia contemporânea. Basicamente, o problema, puxando pela memória, era o seguinte: se seguirmos oferecendo razões para nossas conclusões, sejam elas teóricas ou práticas, chegaremos a um ponto em que uma razão terá que ser aceita por si mesma, sem ulterior justificativa, o que seria literalmente "pedir o princípio"; ou andaremos em círculos, pressupondo na justificativa aquilo que deveríamos justificar; ou então seguiremos ao infinito, com a oferta de uma razão para outra.
Eu não me lembro como eu concluía o artigo, que analisava essa questão perante as filosofias de Habermas e Appel. No entanto, eu posso dizer que, ainda hoje, não estou certa de que o trilema que delineei acima possa ser vencido e, portanto, que alguma crença possa ser completamente justificada. Os argumentos transcendentais, aos quais venho dedicando toda minha vida acadêmica, possuem a pretensão de fundar os princípios que fundam a própria discursividade objetiva. Todavia, não estou plenamente convicta da validade de nenhum deles.
O que então me satisfaz tanto na filosofia? O que é a racionalidade que penso ter encontrado? Justamente, a oportunidade de viver testando os limites da razão. Enquanto colegas de outras áreas de humanas gostam de falar de suas lutas e pressupõem com elas o caráter absoluto de valores pelos quais parecem dispostos até a morrer ou matar, eu encontrei a paz na incerteza da reflexão incessante. Minha realização não se dá no ato de moldar o mundo conforme um sistema de valores, que, bem provavelmente, nem será mais meu em 2 ou 3 anos. Eu me realizo andando pela fronteira dos paradigmas que aceito momentaneamente, medindo-os contra paradigmas concorrentes e vendo como eles se saem no embate.
Eu quero interpretar, mais do que o mundo, a nossa própria capacidade de interpretar o mundo. Outros - cheios de convicção, e sem nenhuma razão - tratarão sempre de mudar o mundo... e ele ainda será sempre o mesmo.
Enfim, vamos ao que interessa. O fato é que uns 16 anos depois de ter feito minha escolha profissional, apesar de todos os pesares da vida acadêmica, ainda estou convicta dela. Se eu pudesse voltar atrás, ainda chocaria minha mãe, contando que me inscrevi para o vestibular de filosofia. Na verdade, quando ela começasse a me dizer que eu não precisava escolher o vestibular mais fácil, pois não tinha problema se eu demorasse anos para entrar na universidade, eu daria a mesma resposta que dei em 1996, só que com ainda mais convicção: "é filosofia mesmo que eu quero!"
Sendo assim, eu mesma me pergunto o que eu encontrei na filosofia que tanto me realizou. Quer saber? Em um mundo tão louco, na filosofia, ainda pude encontrar a tal da racionalidade. Era só isso que eu estava procurando quando, aos 16 anos, decidi dedicar minha vida à filosofia. Eu não queria mudar o mundo, eu não queria provar a validade de alguma convicção... A bem da verdade, eu nem tinha nenhuma convicção, eu só fazia uma pergunta obsessivamente: "existem razões para fazermos algo ou acreditarmos em algo?" Eu era, portanto, o perfeito produto de um mundo já secularizado há muito, que havia vivido há pouco a queda de um muro e, com ele, do comunismo. Não havia mais nenhuma religião disponível para mim! Claro, meus colegas, como muitos jovens de hoje, tolos e insensíveis, ainda eram evangélicos determinados ou militavam ferozmente em partidos políticos radicais. Mas não eu! Aos 16 anos, a minha alma já abrigava todo o ceticismo que o ser humano poderia suportar. Só na filosofia, eu poderia encontrar refúgio.
Se alguém consultar o meu lattes, verá então que meu primeiro artigo, publicado por volta dos meus 19 ou 20 anos, versava justamente sobre o problema da fundamentação última na filosofia contemporânea. Basicamente, o problema, puxando pela memória, era o seguinte: se seguirmos oferecendo razões para nossas conclusões, sejam elas teóricas ou práticas, chegaremos a um ponto em que uma razão terá que ser aceita por si mesma, sem ulterior justificativa, o que seria literalmente "pedir o princípio"; ou andaremos em círculos, pressupondo na justificativa aquilo que deveríamos justificar; ou então seguiremos ao infinito, com a oferta de uma razão para outra.
Eu não me lembro como eu concluía o artigo, que analisava essa questão perante as filosofias de Habermas e Appel. No entanto, eu posso dizer que, ainda hoje, não estou certa de que o trilema que delineei acima possa ser vencido e, portanto, que alguma crença possa ser completamente justificada. Os argumentos transcendentais, aos quais venho dedicando toda minha vida acadêmica, possuem a pretensão de fundar os princípios que fundam a própria discursividade objetiva. Todavia, não estou plenamente convicta da validade de nenhum deles.
O que então me satisfaz tanto na filosofia? O que é a racionalidade que penso ter encontrado? Justamente, a oportunidade de viver testando os limites da razão. Enquanto colegas de outras áreas de humanas gostam de falar de suas lutas e pressupõem com elas o caráter absoluto de valores pelos quais parecem dispostos até a morrer ou matar, eu encontrei a paz na incerteza da reflexão incessante. Minha realização não se dá no ato de moldar o mundo conforme um sistema de valores, que, bem provavelmente, nem será mais meu em 2 ou 3 anos. Eu me realizo andando pela fronteira dos paradigmas que aceito momentaneamente, medindo-os contra paradigmas concorrentes e vendo como eles se saem no embate.
Eu quero interpretar, mais do que o mundo, a nossa própria capacidade de interpretar o mundo. Outros - cheios de convicção, e sem nenhuma razão - tratarão sempre de mudar o mundo... e ele ainda será sempre o mesmo.
segunda-feira, 16 de abril de 2012
O que te torna uma pessoa, afinal?
Outro dia, fiz uma piadinha no Twitter a respeito de um gato sumido e, logo em seguida, "ouvi" um protesto curioso como réplica: "se fosse o filho dela, ela não falaria assim"; ou algo nesses termos. Naturalmente, eu nada respondi, afinal, não estou disponível para bate-bocas com desconhecidos. Porém, considerei a manifestação bastante simbólica com relação a um movimento que me parece ganhar cada vez mais força em nossa época: o daqueles que reivindicam que animais sejam incluídos na categoria moral de pessoas. Veja bem, não se trata propriamente de reconhecer a finitude e mesmo a animalidade do humano, mas sim, inversamente, de humanizar os animais. Por isso mesmo, confesso que meu primeiro impulso é simplesmente considerar os ativistas desse tipo de causa como gente, no mínimo, desprovida daquilo que Kant chamou de "natürlichen gesunden Verstand" em sua Fundamentação da metafísica dos costumes.
Certamente, concedo que, uma vez que você não disponha de um sistema metafísico-religioso para classificar a criação conforme a presença ou não de uma alma concedida pelo Criador à sua imagem e semelhança, pode haver dúvida teórica a respeito do critério segundo o qual concederemos ou negaremos dignidade moral a um ente qualquer. Melhor ainda, especialmente em um mundo pós-Darwin, a própria noção de "dignidade moral" deve se tornar problemática.
Assim, explico que meu espanto perante aqueles ativistas se dá, primeiramente, pela inversão do que penso que deveria ser a questão teórica. Em vez de se perguntarem por que algum ente ainda deveria ser digno de respeito, uma vez que sejam todos igualmente desprovidos de alma, devotam respeito para lá e para cá, quase que indiscriminadamente, em uma espécie de reencantamento da natureza.
Além disso, em um nível puramente prático, causa-me espanto que aquele bom senso natural de que Kant falava não baste para nos guiar, dispensando o ensinamento de filósofos ilustrados ou iluminados, no que diz respeito ao que, ou, melhor dizendo, a quem devemos respeitar. Sendo assim, mais do que nunca é hora da filosofia tratar de esclarecer o que é próprio do humano, isto é, o que poderia nos colocar acima das bestas e nos tornar exclusivamente dignos de respeito, por mais animais que sejamos.
Parece-me que poderíamos, grosso modo, separar os ativistas que temos em vista em duas categorias não mutuamente excludentes: os intelectualistas e os sensualistas. Os primeiros acreditam que todo ente capaz de resolver problemas teóricos é digno de respeito. Os segundos acreditam que tudo que sente prazer e dor merece ser respeitado.
Prima facie, eu não vejo o que há de intrinsecamente respeitável em um ser capaz de calcular e/ou de sentir. Em outras palavras, eu não vejo por que seríamos promovidos da categoria de coisas para a categoria de seres humanos meramente por sermos capazes de sentirmos e/ou pensarmos. Quero com isso também afirmar que não penso que, quando os demais animais eram tranquilamente excluídos da categoria de pessoas, o fato se dava apenas porque, como Descartes, tomávamos animais como máquinas, ou ainda porque eles seriam considerados totalmente desprovidos de habilidades intelectuais. Nesse sentido, pouco importa então que, agora, atribuamos um mundo interno aos animais ou ainda que descubramos que eles são mais bem dotados intelectualmente do que poderíamos supor há algumas décadas.
Pois bem, se não era meramente pelo fato dele ser capaz de sentir e pensar que colocávamos o homem acima dos animais, não será por passarmos a atribuir tais capacidades aos animais que os colocaremos no mesmo patamar moral do homem. Mas o que, então, se não uma alma imortal, torna o homem humano?
Dizem que um papagaio pode resolver problemas matemáticos de alguma complexidade. Já uma vaca poderia sentir quando está no "corredor da morte". Enquanto isso, o homem não é simplesmente um animal intelectualmente mais hábil do que um papagaio, um chimpanzé ou um golfinho e ainda mais sensível do que uma vaca ou um porco. O homem é o único animal que tem a capacidade de calcular e tomar o resultado do seu cálculo como um motivo para suas ações, sem a presença imediata do móbil sensível no contexto da ação. Em outras palavras, apenas o homem possui aquilo que Kant, na mesma obra mencionada acima, define como "vontade": a capacidade de agir segundo a representação de leis, e não apenas segundo leis.
É por constatarem a ausência de vontade nos animais que mesmo quem fala em "direitos" dos animais, não fala também em "deveres". Ninguém quer construir cadeias para que os animais paguem por seus crimes. Animais simplesmente não cometem crimes, porque seres sem vontade simplesmente não podem ser imputáveis pelo que quer que façam! Ora, isso significa que apenas um ser dotado de vontade pode ser um agente moral ou uma pessoa.
Claro que você ainda pode dizer: "Ah, mas as pessoas podem respeitar os direitos dos animais!" Acontece que o ponto é exatamente por que atribuiríamos direitos e dignidade moral ao que justamente não pode ser um "quem" no âmbito moral. Só uma vontade pode ser respeitada! Isso não implica que temos licença moral para infringirmos dor sem propósito aos demais animais, o que é característico da crueldade e, certamente, não é um traço que deva ser cultivado em pessoas. Mas implica que exigir que animais sejam tratados como se fossem pessoas, jamais sendo instrumentalizados, não passa de mais uma das grandes tolices teóricas e perversões práticas desta nossa época pós-moderna de pouco esclarecimento.
domingo, 15 de abril de 2012
O sonho do retorno ao paraíso
Até onde consigo me lembrar do que me foi ensinado na infância, na mitologia cristã, o paraíso é o habitat original do homem, ou melhor, de Adão e Eva. Nele, o primeiro casal desfruta da natureza sem ter que trabalhar sobre ela, não é isso? A necessidade do trabalho seria justamente a punição decorrente da desobediência a Deus quando no paraíso. Assim, fica estabelecida a relação entre o trabalho para manutenção da vida e um castigo moral com uma temporalidade determinada, em vez de se tomar o primeiro como um fato natural acompanhando necessariamente, e não transitoriamente, a finitude animal do ser humano.
As formigas carregam folhas muito mais pesadas do que elas próprias, os leões precisam abater a caça se não quiserem ficar de barriga vazia... mas o homem... ah, não é natural levantar às 06h00 da manhã, pegar a marmita e sair para o batente. O destino do homem, de certo, é jogar xadrez e discutir filosofia, ou, sendo mais realista, tomar cerveja e discutir futebol, enquanto a divina providência tudo a ele provê. E assim foi feito o marxismo, essa versão moderna e secularizada do cristianismo.
Em vez de colocar o paraíso no início da história humana, como fez o cristianismo, o marxismo preferiu situá-lo ao final dela. O comunismo será então aquele estado de coisas em que o homem, liberto da necessidade de trabalhar pela sua auto-preservação, verá o trabalho duro ser feito apenas pelas máquinas. Sim, máquinas desempenhando aquele papel que era reservado a Deus no paraíso dos cristãos.
Naturalmente, o darwinismo não convenceu o cristão de que nunca houve tal estado originário com o qual ele sonhava e ao qual, ainda que seja depois da morte, ele pretende voltar. Da mesma forma, o marxismo não admite refutação, até porque nunca determinou mesmo a data precisa da nossa entrada no paraíso comunista. Ambos, cristianismo e marxismo, serão eternamente alimentados pelo puro e simples desejo de negação do mais evidente estado do homem: o de animal, lutando pela sua sobrevivência sobre a face da Terra, até que um meteoro qualquer nos extinga... e pronto.
sábado, 14 de abril de 2012
Dropbox e Sugarsync: nunca mais perca um arquivo!
Como eu sou uma pessoa de muito bom coração, quase uma Madre Tereza, mais uma vez, vou dar uma dica que pode ser válida para o pessoal menos antenado, aqueles que não têm ficado atentos às novidades tecnológicas que tornam nossas vidas muito mais produtivas. Não importa qual o seu sistema operacional, você pode usufruir de dois serviços muito legais: Dropbox e Sugarsync. Eu não me importo muito em saber qual dos dois é o melhor, porque, afinal de contas, nada impede que usemos ambos simultaneamente, como eu mesma faço ;-)
Uma vez instalado no seu computador, o Dropbox abrirá uma pasta para a qual você pode arrastar arquivos, por isso, "dropbox" :-P Os arquivos constantes dessa pasta ficarão armazenados no servidor do Dropbox e poderão ser acessados de qualquer computador, por meio do navegador ou de um aplicativo próprio. Naturalmente, conforme você atualiza os arquivos localmente na sua pasta Dropbox, eles são atualizados também na nuvem Dropbox.
No caso do Sugarsync, você não precisa de uma pasta especial. Ele até abrirá uma pasta no seu computador chamada "Magic Briefcase", mas ela só serve para o que você quiser armazenar online, sem sincronizar. O serviço principal funciona da seguinte forma: Na instalação, você seleciona quais pastas do seu computador farão parte do Sugarsync. A partir de então, tudo que estiver nessas pastas será armazenado no servidor do Sugarsync e todas as suas atualizações, das pastas e dos arquivos, serão sincronizadas. Assim como no caso do Dropbox, você poderá acessar seus arquivos por qualquer outro computador, via navegador ou aplicativo especial.
Particularmente, como eu falei acima, uso ambos, até porque há um limite de armazenamento para as contas gratuitas, de modo que é interessante somar o espaço gratuito concedido por ambos os serviços. Para quem quiser fazer o mesmo, a dica é separar por categorias o tipo de arquivo que irá para o Dropbox e o tipo de pasta que irá para o Sugarsync. Como eu também uso o iCloud, serviço similar para usuários da Apple, o fato é que, se eu perdesse meu computador, eu não perderia um único arquivo :-)
Brasil: a Matrix petista
Se tem uma coisa que o PT conseguiu fazer com êxito desde a campanha eleitoral que elegeu Lula pela primeira vez - e que, inclusive, explica o sucesso dessa campanha - foi ter incutido no brasileiro a crença de que tudo estaria bem com o país no seu governo. Eu mesma confesso ter sido capturada pela Matrix petista bem depois da campanha e por algum tempo, dado o fenômeno real de expansão da nossa classe média, o que é extremamente desejável.
Todavia, logo eu acordei para a realidade ao me dar conta de que o Brasil não vem fazendo nenhum tipo de progresso estrutural, mas apenas colhendo benefícios circunstanciais da conjuntura econômica mundial. Como todos sabemos, o forte crescimento da China implica na necessidade de que o país importe commodities em grande quantidade, o que beneficia exportadores como o Brasil. Ademais, vivemos uma época muito propícia para os exportadores de alimentos, o que dá grande impulso ao nosso agronegócio. Agora, nada disso implica em real desenvolvimento e industrialização do Brasil. Particularmente, ao passo que muitos neo-nacionalistas olham para a crise européia prevendo um Brasil mais desenvolvido do que aquele continente em 20 anos, eu sou absolutamente cética quanto a isso.
Enquanto os tigres asiáticos, há muito tempo, deram exemplo do quanto o desenvolvimento de um país depende de progressos na educação, enquanto a própria China investe pesadamente na educação das suas novas gerações, o Brasil continua produzindo uma legião de analfabetos funcionais. A nova classe média - sejamos realistas - avançou economicamente, mas não deu um único passo adiante em termos culturais. Pelo contrário, a oferta de bens culturais é que tem sido adaptada às limitações desse novo público, como é o caso da dublagem tornando-se regra na TV a cabo e no cinema, por exemplo. Se há aparente progresso em termos de titulação formal, ele não é acompanhado da respectiva aquisição do conhecimento correspondente.
Por fim, continuamos diante do espetáculo da corrupção de sempre, por mais que o neo-nacionalista atribua tudo que vê e ouve com os próprios olhos e ouvidos a uma maldosa campanha contra o governo promovida pelo tal "PIG". Fernando Collor e Renan Calheiros integram comissão de ética e senadores fingem espanto com práticas correntes de corrupção, que não são patrimônio deste ou daquele partido, como também querem crer os neo-nacionalistas.
Nem sequer me parece possível avaliarmos a dimensão que a corrupção atinge de Brasília a cada repartição pública deste país. Agora, se você acredita que o verdadeiro desenvolvimento econômico de um país é compatível com a corrupção endêmica da sociedade, parabéns, você toma direitinho sua dose diária da pílula azul :-)
Todavia, logo eu acordei para a realidade ao me dar conta de que o Brasil não vem fazendo nenhum tipo de progresso estrutural, mas apenas colhendo benefícios circunstanciais da conjuntura econômica mundial. Como todos sabemos, o forte crescimento da China implica na necessidade de que o país importe commodities em grande quantidade, o que beneficia exportadores como o Brasil. Ademais, vivemos uma época muito propícia para os exportadores de alimentos, o que dá grande impulso ao nosso agronegócio. Agora, nada disso implica em real desenvolvimento e industrialização do Brasil. Particularmente, ao passo que muitos neo-nacionalistas olham para a crise européia prevendo um Brasil mais desenvolvido do que aquele continente em 20 anos, eu sou absolutamente cética quanto a isso.
Enquanto os tigres asiáticos, há muito tempo, deram exemplo do quanto o desenvolvimento de um país depende de progressos na educação, enquanto a própria China investe pesadamente na educação das suas novas gerações, o Brasil continua produzindo uma legião de analfabetos funcionais. A nova classe média - sejamos realistas - avançou economicamente, mas não deu um único passo adiante em termos culturais. Pelo contrário, a oferta de bens culturais é que tem sido adaptada às limitações desse novo público, como é o caso da dublagem tornando-se regra na TV a cabo e no cinema, por exemplo. Se há aparente progresso em termos de titulação formal, ele não é acompanhado da respectiva aquisição do conhecimento correspondente.
Por fim, continuamos diante do espetáculo da corrupção de sempre, por mais que o neo-nacionalista atribua tudo que vê e ouve com os próprios olhos e ouvidos a uma maldosa campanha contra o governo promovida pelo tal "PIG". Fernando Collor e Renan Calheiros integram comissão de ética e senadores fingem espanto com práticas correntes de corrupção, que não são patrimônio deste ou daquele partido, como também querem crer os neo-nacionalistas.
Nem sequer me parece possível avaliarmos a dimensão que a corrupção atinge de Brasília a cada repartição pública deste país. Agora, se você acredita que o verdadeiro desenvolvimento econômico de um país é compatível com a corrupção endêmica da sociedade, parabéns, você toma direitinho sua dose diária da pílula azul :-)
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Concorrentes do Facebook: eis os que "curto"
Eu me declarei fã do Google abaixo, mas praticamente só falei mal dele até agora, não é mesmo? Então, deixa eu dar um exemplo de acerto agora. A nova interface do Google+ é bem bonita, leve e prática. Gostei muito! Perto dela, o Facebook parece uma favela para os olhos. Por sinal, o Facebook sempre faz mal aos meus olhos também pelo conteúdo postado por seus membros, com aquelas montagens banais e amadoras, que se repetem à exaustão. Por exemplo, quantas vezes você teve que ver aquela maldita foto do antigo Willy Wonka, acompanhada de alguma legendazinha vaga-bunda, se você abriu seu feed de notícias nos últimos dias?
Confesso que só mantenho um perfil no Facebook, sem a menor intenção de postar algo nele, porque a rede, para muitos, acabou assumindo funções do e-mail, de tal forma que não ter um perfil ativo no Facebook traz certos prejuízos de comunicação. Mas, como rede social mesmo, o Google+ me parece muito mais promissor.
É verdade que, talvez, eu esteja supervalorizando os benefícios dos círculos do Google+, porque estou avaliando a rede em um momento em que ela, longe de estar saturada como o Facebook, ainda luta para se tornar atrativa. De todo modo, o fato é que me parece que o sistema de círculos ofereceria um certo potencial para que nos resguardemos com mais eficiência e facilidade do contato com pessoas que nem sempre têm o devido bom senso a respeito do tipo de conteúdo que deve ser ofertado ao outro em uma rede social.
Explico. Suponha que você simplesmente mantenha um site ou um blog. Se você quiser postar nele 50 receitas de sopas diversificadas ao dia ou 02 correntes de oração por hora, não haveria nisso qualquer inconveniente ou quebra de etiqueta social, afinal, a sua postagem não seria necessariamente parte de uma página criada pelo leitor para seu acesso diário, na qual ele gentilmente aceitou lhe incluir. O leitor do seu site ou blog precisaria de uma ação especificamente direcionada para realizar uma intenção explícita de ler seu post.
Ora, isso é muito diferente de uma atualização de status do Facebook, quando, em princípio, tudo que você postar será enviado para seus "amigos", a menos que eles executem uma ação especificamente direcionada ao cancelamento da assinatura das suas atualizações. Pois o que as pessoas raramente entendem é que, por essas razões, estar em uma rede social como o Facebook implica em uma certa etiqueta, uma certa atenção com o que será postado, uma certa preocupação com os interesses dos outros e também com a relevância do que está sendo enviado para o outro. Pelo contrário, o que, via de regra, as pessoas fazem é inundar o feed de notícias alheio com o que ultrapassa a mera exposição exaustiva de seus interesses privados, tornando-se até mesmo uma imposição desses interesses aos seus "amigos".
É o crescimento da participação desse tipo de membro que não entende (ou não quer entender) a dinâmica de uma rede social e a responsabilidade contraída perante os seus contatos que eu chamo de "orkutização". Assim, talvez o Google+ deva ser recomendado simplesmente por ainda não estar "orkutizado" ;-)
Por fim, outra rede social que merece ser citada nesse sentido, por ser uma rede que está oferecendo um ambiente dos mais enriquecedores e agradáveis, é o Pinterest.
A princípio, eu pensei que fosse uma bobagem da qual eu me enjoaria rapidamente, porque não passa de um mural no qual você pendura imagens separadas em algumas poucas categorias. Mas ainda não enjoei de acessá-lo justamente em função do bom gosto dos membros e do tom civilizado das interações (coisa que não se pode dizer de Twitter e Facebook). O Pinterest sempre me inspira - cumprindo o que promete, por sinal - com uma imagem que não é apenas agradável aos olhos, mas que também revela um objeto dotado de algum interesse especial. Abrir o Pinterest é como abrir uma janela para um mundo mais sofisticado, criativo e elegante. Nenhuma semelhança com o Facebook, e isso não é mera coincidência!
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Testando BloggerPlus
Achei este BloggerPlus, que parece muito bom. Não é elegante como o Blogsy. Também achei pouco intuitivo de cara, mas até que está dando para sacar rápido agora e estou achando bem funcional. Inclusive, tem uma funcionalidade bacana que o Blogsy não tem em relação ao iPad: dá para incluir fotos do próprio iPhone no post. Se a foto sair direitinho no post e tudo mais, valeu os $3,00. Vamos ver.
P.S. A propósito, aproveito para homenagear meu estado, já que tenho que usar uma foto no teste. E é época de pinhão, não é?
P.S. A propósito, aproveito para homenagear meu estado, já que tenho que usar uma foto no teste. E é época de pinhão, não é?
Cavalo dado não se olha os dentes?
Eu sou fã do Google, porque, além de eu não saber viver sem o buscador, eu gosto das ideias que eles têm sobre serviços e da integração entre os mesmos. Mas, pelo amor de Deus, como falta cuidado com a funcionalidade e o "acabamento", assim por dizer.
Agora mesmo, vou deletar este App Blogger, que estou usando pela última vez, porque é uma porcaria. Nem quebra o galho, como eu pensei antes. O ícone de ocultação do teclado, por exemplo, simplesmente encobre o que eu digito enquanto eu digito. Serviço de porco mesmo!
Parece que a "filosofia" do Google é: a gente não cobra e você não reclama.
Aborto: qual é o ponto?
Por mais que eu odeie dar razão aos ateus militantes (ou a qualquer tipo de militante), devo admitir que apenas o fanatismo religioso explica o fato de haver um debate, arrastando-se por anos, a respeito do aborto de fetos anencéfalos. Que um ser humano dependa do cérebro para viver, afinal, é uma verdade que Hume, por exemplo, consideraria provada, em vez de uma mera probabilidade. Quer dizer, por mais que não seja uma verdade logicamente necessária, é uma certeza completa que obtemos por meio de experiências de constância plena. Dito isso, o problema do aborto dos anencéfalos é um pseudo-problema, pois você não pode tirar a vida humana que não existe e nem existirá um dia, por mais que esse feto possa, eventualmente, ser mantido vivo artificialmente por mais algum tempo, uma vez fora do útero da mãe.
Já nos demais casos em que se propõe a liberação do aborto, o caso não é assim tão simples, por mais que as feministas queiram reduzi-lo a uma simples questão do direito da mulher sobre seu próprio corpo (aliás, interessante como, quando convém, elas valorizam o direito à propriedade, não?). Ora, o mais radical dos liberais ainda admitiria que o direito à propriedade privada, sendo a propriedade do corpo aquela originária, tem que ser limitado pelo direito equivalente dos demais. Assim, não está em questão se a mãe tem ou não direito ao corpo, mas sim se o feto tem ou não direito à vida. Se a decisão desta última questão for afirmativa, então o direito à vida do feto pode muito bem se sobrepor ao direito da mulher de não querer um hóspede indesejado por nove meses, afinal, o feto não invadiu o corpo dela à força. Sendo um sujeito de direitos, ele não poderia pagar com a vida por um ato não cometido por ele.
Neste ponto, portanto, a posição dos religiosos, ao negar o direito ao aborto, mesmo em casos de estupro ou risco à vida da mãe, parece-me muito mais coerente do que a posição daqueles que admitem o aborto apenas em casos de estupro ou risco à vida da mãe. Ou o feto tem direitos e, neste caso, qualquer aborto seria assassinato; ou o feto não tem direitos e, neste caso, qualquer aborto seria lícito.
Mais complexo seria apenas o caso de conjunção de ambas as situações: estupro e risco à vida da mãe. Parece-me que, neste caso, a mãe deveria ter o direito de escolher sua própria vida em detrimento da vida do feto, pela qual ela não é responsável. Na verdade, do ponto de vista estritamente jurídico, parece sempre inócuo que punamos o aborto nos casos de risco à vida da mãe, porque a mulher poderia sempre calcular que é melhor se submeter ao risco da pena do que ao risco mais eminente que sua vida sofre com a gestação. Em todo caso, de um ponto de vista moral mais amplo, se o feto for um cidadão de direitos, a mãe, sendo responsável pela vida dele, poderia muito bem não ter o direito de optar por sacrificá-lo para se auto-preservar.
Enfim, já perceberam que o ponto da discussão é o estatuto moral do feto? Saber o que deve ser debatido é sempre o primeiro passo para a racionalidade, se é que alguém ainda se importa com ela, seja feminista ou religioso.
Já nos demais casos em que se propõe a liberação do aborto, o caso não é assim tão simples, por mais que as feministas queiram reduzi-lo a uma simples questão do direito da mulher sobre seu próprio corpo (aliás, interessante como, quando convém, elas valorizam o direito à propriedade, não?). Ora, o mais radical dos liberais ainda admitiria que o direito à propriedade privada, sendo a propriedade do corpo aquela originária, tem que ser limitado pelo direito equivalente dos demais. Assim, não está em questão se a mãe tem ou não direito ao corpo, mas sim se o feto tem ou não direito à vida. Se a decisão desta última questão for afirmativa, então o direito à vida do feto pode muito bem se sobrepor ao direito da mulher de não querer um hóspede indesejado por nove meses, afinal, o feto não invadiu o corpo dela à força. Sendo um sujeito de direitos, ele não poderia pagar com a vida por um ato não cometido por ele.
Neste ponto, portanto, a posição dos religiosos, ao negar o direito ao aborto, mesmo em casos de estupro ou risco à vida da mãe, parece-me muito mais coerente do que a posição daqueles que admitem o aborto apenas em casos de estupro ou risco à vida da mãe. Ou o feto tem direitos e, neste caso, qualquer aborto seria assassinato; ou o feto não tem direitos e, neste caso, qualquer aborto seria lícito.
Mais complexo seria apenas o caso de conjunção de ambas as situações: estupro e risco à vida da mãe. Parece-me que, neste caso, a mãe deveria ter o direito de escolher sua própria vida em detrimento da vida do feto, pela qual ela não é responsável. Na verdade, do ponto de vista estritamente jurídico, parece sempre inócuo que punamos o aborto nos casos de risco à vida da mãe, porque a mulher poderia sempre calcular que é melhor se submeter ao risco da pena do que ao risco mais eminente que sua vida sofre com a gestação. Em todo caso, de um ponto de vista moral mais amplo, se o feto for um cidadão de direitos, a mãe, sendo responsável pela vida dele, poderia muito bem não ter o direito de optar por sacrificá-lo para se auto-preservar.
Enfim, já perceberam que o ponto da discussão é o estatuto moral do feto? Saber o que deve ser debatido é sempre o primeiro passo para a racionalidade, se é que alguém ainda se importa com ela, seja feminista ou religioso.
quarta-feira, 11 de abril de 2012
O Leviatã atrás dos gordinhos
Depois de atormentar os fumantes até chegar ao ponto de quase inviabilizar o hábito de fumar, agora, o Leviatã brasileiro está de olho nas nossas gordurinhas sobrando. Bom, neste caso, como não se pode falar em gordo passivo, poderíamos nos rebelar com muito mais razão, alegando que nossas banhas são um "problema" de âmbito privado, certo? Certo para libertários, como eu. Mas e você? Será que você poderá se queixar coerentemente se o governo resolver fechar churrascarias e tirar a Nigella do ar? Creio que não, se você for um entusiasta do SUS.
A partir do momento em que nossos hábitos privados geram gastos públicos a serem compartilhados por toda sociedade, o governo, responsável pelo interesse público, tem, sim, o direito de legislar sobre a vida privada de cada indivíduo. Se as suas ações implicam em ônus coletivo, você perde o direito de dizer: "problema meu, cuide da sua vida!" Lembra quando papai pagava suas contas? Pois é, então, ele tinha o direito de lhe obrigar a comer todo o espinafre. Você não quis um Estado paternalista? Agora, aguente!
Aniversário de um Golpe
Agora que a poeira sobre o aniversário do golpe militar sofrido pelo Brasil já baixou, também quero fazer uso deste precioso direito que os militares haviam nos tomado e expressar minha opinião. Eu sou incondicionalmente contra qualquer forma de ditadura, porque, para mim, a liberdade de expressão é justamente o único valor que devemos tomar como incondicional, afinal, a menos que acreditemos que valores são escritos em pedra pelo Ser supremo para toda eternidade, temos que assumir que eles são produtos da racionalidade humana, que só pode ser exercida via liberdade de expressão. Logo, nenhum valor pode se sobrepor à liberdade de expressão.
Dito isso, é evidente que eu condeno o golpe que os militares perpetraram no Brasil e, sobretudo, a forma de governo advinda desse golpe. Não faz o menor sentido que a liberdade seja suprimida como um suposto meio para sua defesa. Agora, dizer isso não implica em tomar como heróis os comunistas que enfrentaram os militares. Não é porque houve um confronto que um dos lados deve necessariamente estar certo, para que o outro esteja errado. Ambos podem estar igualmente lutando pela causa errada!
Não resta a menor dúvida de que aqueles guerrilheiros comunistas que enfrentaram os militares teriam imposto ao Brasil uma ditadura da mesma intensidade. Por que não tenho dúvidas? Ora, se querem uma evidência empírica, basta observar o modo como Fidel Castro sempre tratou seus opositores e o apreço irrestrito que nossos comunistas sempre nutriram por ele. Ademais, passando ao aspecto doutrinal, é próprio do comunismo submeter a liberdade individual ao suposto interesse comum. Ser comunista e defender a liberdade, em qualquer sentido razoável desse termo, é pura e simplesmente uma incoerência.
Assim, o que eu tenho a dizer sobre o assunto é que fico feliz em viver em um mundo livre dos militares e com comunistas já domesticados (ou mesmo convertidos?) no poder. A mim, pouco importa se a mão que me açoita é a esquerda ou a direita.
terça-feira, 10 de abril de 2012
Blogsy
Agora que eu voltei a brincar de bloggar, preciso de um bom App para atualização do meu blog via iPad/iPhone. Já testei o App Blogger oficial para iPhone e diria que é um quebra-galho. Não permite nem digitação com o iPhone na horizontal (landscape). Já no iPad, estou testando o Blogsy. Exceto pelo fato dele não permitir o upload direto de fotos do iPad para o post, parece bom. É bonito, razoavelmente intuitivo, tem um editor de texto bem completo e acesso a várias fontes online das quais você pode simplesmente arrastar conteúdo para dentro do post. Mas só vou saber mesmo se ele valeu os $5,00 depois de clicar em publicar ;-)
http://blogsyapp.com/
Universidade Pública Gratuita... para Todos?
Se você acredita que o Estado tem alguma finalidade, ou você acredita que ele deve ser apenas um night watcher ou acredita que ele deve oferecer algum tipo de benefício social (tais como a oferta de educação e saúde, por exemplo). Se você acredita que o Estado deve oferecer benefícios à sua população, por sua vez, ou você acredita que os programas dedicados a tanto devem ser universais ou você acredita que devem atender apenas segmentos bem localizados da população. Parece-me então que, no primeiro caso, você acredita que existam direitos positivos a serem gozados por todo cidadão como tal, direitos estes (à saúde, à educação...) que implicariam em deveres do Estado para com a população. No segundo caso, quer me parecer, você acredita que programas sociais tenham uma função mais instrumental de resgatar os miseráveis e amparar os hipo-suficientes. No primeiro caso, classificaríamos os defensores do Estado de Bem-Estar Social. No segundo caso, classificaríamos os liberais clássicos, que, muitas vezes, admitem programas sociais localizados.
Não seria mais ou menos por aí? Acho que não! Esse esquema aí acima está incompleto. Afinal, como explicar, a partir dele, que alguém defenda um benefício social localizado, que vem a atender justamente a elite de um país? Como é assim a oferta de ensino superior no Brasil - e ninguém nem discute a questão -, o meu esquema mostra-se incompleto. Ele deixa de fora, por exemplo, aqueles que defendem as sociedades de casta, que são justamente os privilégios institucionalizados para as elites. É isso que temos no Brasil!
Evernote
Normalmente, usamos a internet quando queremos denunciar o mau serviço prestado por alguma empresa. Acho isso importante, porque eu mesma, antes de contratar um serviço ou adquirir um produto de valor considerável, procuro saber a opinião dos consumidores que já testaram o serviço ou o produto. Mas, se é assim, da mesma forma, vale também compartilharmos dicas de bons produtos e serviços.
Agora, se há um produto que indico com gosto, é o Evernote. Já ouviu falar? Bom, se, assim como eu, você está habituado a reunir todo tipo de informações relativas a um mesmo projeto em alguma pasta do seu desktop, acredite, você vai querer usar Evernote. Com ele, você pode, por exemplo, criar um caderno de notas relativo a um mesmo projeto e então organizar ali suas notas, utilizando um editor de texto incorporado ao programa. O mais legal é que você pode anexar a essas notas praticamente qualquer coisa que lhe ocorra, como, por exemplo, arquivos de texto, fotos, arquivos de audio, páginas da internet...
E não é só isso. Hoje em dia, quem usa apenas um computador? No mínimo, você usa um computador em casa e outro no trabalho. Possivelmente, você usa ainda um tablet e um smartphone. Pois o Evernote, além de poder ser instalado em qualquer sistema operacional, ainda sincroniza perfeitamente todo o seu conteúdo entre os diferentes dispositivos onde você o instalou.
Com uma conta gratuita, você faz tudo que mencionei acima. O único inconveniente é que você precisa estar online para acessar o seu conteúdo no programa, seja no computador que for. Com uma conta premium ($45,00 ao ano), esse inconveniente é resolvido. Particularmente, como eu estou sempre online, a conta gratuita satisfaz minhas necessidades. Enfim, eu gosto tanto do Evernote que seria até egoísmo não avisar aos desavisados sobre a existência disso hehehe De certas coisas, eu faço propagando de graça, e com muito gosto, porque, afinal, são produtos e serviços que tornam a minha vida mais fácil e podem tornar a dos outros também. Além do mais, a competência sempre merece ser apoiada ;-)
http://www.evernote.com/
Michael Sandel
Confesso que nunca li nada do Michael Sandel. Mas, neste caso, nem é por falta de tempo, como de costume. Falta-me interesse em razão das propagandas que ele próprio faz de seu projeto filosófico na grande mídia. Como, em pleno 2012, alguém pode olhar ao redor e pensar em acordos políticos sobre questões substanciais relativas à boa vida e à virtude? Na verdade, neste ponto, sou uma kantiana ortodoxa: tais acordos não seriam apenas impossíveis na prática, eles são mesmo indesejáveis, por sua natureza despótica.
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Navegar é preciso... contra a maré ;-)
Mais um blog! Já tenho um em meu site, mas confesso que o uso mais para me forçar a treinar o inglês. Queria também um blog mais... opinativo e ativo, digamos assim.
Além disso, este é mais um blog também no sentido de ser mais um na multidão de blogs existentes pela internet à fora. Por que mais um então? Ora, porque este é para as minhas opiniões. E minhas opiniões importam para você? Provavelmente, não. E, para ser bem sincera, pouco me importa se você se importa ou não.
O importante é que ainda haja quem tenha coragem de ter opinião própria, seja você ou eu. Explico. A internet, para muitos, significa uma espécie de ferramenta de luta pela libertação (Oh!). Na era da TV, afinal, éramos todos passivos diante dos formadores de opinião. No máximo, comentávamos com nosso companheiro de sofá o que achávamos do topete da Hebe Camargo. Ou não comentávamos nada, porque não achávamos nada!
Mas, agora, na era da internet, todos falam, todos precisam falar, tendo ou não o que dizer. Cada um externa então sua própria opinião, bem ou mal formada? Nada disso! Cada um não diz mais do que aquilo que imagina que vá angariar o maior número de clicks no botão "curtir". Nisso, é incrível a onda moralista que toma conta das redes sociais. Massas se formam ao redor de "causas" e compartilham vorazmente montagens amadoras e apelativas, bem ao estilo "uma imagem vale mais do que mil palavras".
Ora, contra imagens não há argumentos, não é mesmo? Mas, se houver, não se preocupe. Se você ousar externar uma opinião que destoe das massas das redes sociais, as sirenes das patrulhas ideológicas serão acionadas e elas virão imediatamente em sua captura. Em suma, a internet, com o mais recente fenômeno das redes sociais, nada tem de libertadora do que quer que seja ou de formadora de individualidades. Ela apenas sacramenta definitivamente o pensamento do rebanho ordinário.
Bom, este modesto blog está aqui então para ser uma voz contra a multidão, ou, ao menos, independente dela. É a minha voz, seja ela ouvida ou ignorada. Isso pouco me importa...
Além disso, este é mais um blog também no sentido de ser mais um na multidão de blogs existentes pela internet à fora. Por que mais um então? Ora, porque este é para as minhas opiniões. E minhas opiniões importam para você? Provavelmente, não. E, para ser bem sincera, pouco me importa se você se importa ou não.
O importante é que ainda haja quem tenha coragem de ter opinião própria, seja você ou eu. Explico. A internet, para muitos, significa uma espécie de ferramenta de luta pela libertação (Oh!). Na era da TV, afinal, éramos todos passivos diante dos formadores de opinião. No máximo, comentávamos com nosso companheiro de sofá o que achávamos do topete da Hebe Camargo. Ou não comentávamos nada, porque não achávamos nada!
Mas, agora, na era da internet, todos falam, todos precisam falar, tendo ou não o que dizer. Cada um externa então sua própria opinião, bem ou mal formada? Nada disso! Cada um não diz mais do que aquilo que imagina que vá angariar o maior número de clicks no botão "curtir". Nisso, é incrível a onda moralista que toma conta das redes sociais. Massas se formam ao redor de "causas" e compartilham vorazmente montagens amadoras e apelativas, bem ao estilo "uma imagem vale mais do que mil palavras".
Ora, contra imagens não há argumentos, não é mesmo? Mas, se houver, não se preocupe. Se você ousar externar uma opinião que destoe das massas das redes sociais, as sirenes das patrulhas ideológicas serão acionadas e elas virão imediatamente em sua captura. Em suma, a internet, com o mais recente fenômeno das redes sociais, nada tem de libertadora do que quer que seja ou de formadora de individualidades. Ela apenas sacramenta definitivamente o pensamento do rebanho ordinário.
Bom, este modesto blog está aqui então para ser uma voz contra a multidão, ou, ao menos, independente dela. É a minha voz, seja ela ouvida ou ignorada. Isso pouco me importa...
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